O Projecto " Arte Nossa" nasce pela necessidade de atribuir um novo ênfase às questões dos ofícios tradicionais de Castelo de Vide, uma vez que enfrentam o risco de desaparecer por completo, perdendo-se, assim, parte da memória colectiva de Castelo de Vide e, consequentemente, da sua autenticidade.É neste sentido que pretendemos não somente apresentar alguns destes ofícios, como também debatê-los num contexto teórico e numa perspectiva futura.Assim, o projecto incidirá em dois aspectos distintos mas que se complementam: por um lado a mostra de ofícios que será apresentada em pontos específicos da vila que o visitante percorrerá; por outro lado, um debate sobre a importância dos ofícios enquanto manifestações da identidade e autenticidade de Castelo de Vide, bem como promotores de desenvolvimento local.


Avaliação do Projecto

O projecto “Arte Nossa” foi sem dúvida, uma experiência enriquecedora para todos os que se envolveram e empenharam na sua concretização. Com efeito, este projecto foi resultado de um enorme esforço do grupo, de um processo de conhecimento e de engajamento de todos nós.
Assim, a forma como a intervenção se desenvolveu foi mais que a intervenção por si só, o resultado de todo este processo em que o grupo, sempre unido, conseguiu atingir os objectivos a que se propunha inicialmente, no sentido em que foi com sucesso que conseguimos, envolver toda a comunidade tendo presente o seu bem em detrimento do resultado que obteríamos.
A escolha do tema do nosso projecto foi fruto de uma detalhada análise da realidade de Castelo de Vide, a fim de detectar-mos quais as necessidades e carências desta população. Neste sentido, deparamo-nos com uma enorme lacuna no que concerne à revitalização dos antigos ofícios como um instrumento de desenvolvimento local e regional.
Com efeito, urgem iniciativas que promovam e que de alguma forma registem estas questões. É neste sentido, que a primeira parte do projecto “Arte Nossa”, passou por dar especial atenção às questões que envolvem teoricamente as necessidades de revitalização dos antigos ofícios.
A palestra que teve lugar no dia 30 incidiu sobre estas questões, todavia temos consciência que nem tudo correspondeu às nossas expectativas.
Desde logo, a falta de disponibilidade de um orador fez com que tivéssemos de alterar ligeiramente a organização da palestra, contudo, foram abordados os pontos essências, sendo a escolha dos oradores acertada e pertinente, no sentido em que se criou um paralelismo entre o contexto real e os ofícios, através do testemunho do Mestre Mamede, o poder político, com a intervenção do Sr. Vice Presidente da Câmara de Castelo de Vide, entre a Escola Superior de Educação de Portalegre e a Associação Ocre.
De facto, a sala estava composta sobretudo por pessoas de Castelo de Vide. Com efeito, a iniciativa de termos disponibilizado um autocarro do IPP não surtiu qualquer efeito por apenas termos conseguido levar duas pessoas. Consideramos que este facto pode dever-se a uma falha no que toca à divulgação. Efectivamente, os cartazes não se tornaram eficazes, talvez porque ao publicitarmos duas actividades com a mesma imagem induzimos as pessoas a julgar que seriam dois cartazes com a mesma mensagem.
Outro dos problemas surgidos deveu-se ao facto da máquina fotográfica que disponibilizamos para fazer o levantamento fotográfico da palestra, não ter funcionado devido a uma avaria. Por outro lado, possuímos o registo da palestra em mini dv, contudo, este é demasiado pesado para publicar no blogue.
Com efeito, no desenrolar da palestra ficou a ideia de construir um centro de revitalização de antigos ofícios complementado por um exaustivo levantamento e registo dos mesmos.
No que respeita ao dia da mostra etnográfica, dia 31, também nos surgiram alguns imprevistos. Desde logo, porque o tipógrafo não compareceu, o que acabou por desvirtuar o circuito que tínhamos criado para que os visitantes seguissem. Todavia, o circuito decorreu dentro do esperado, superando mesmo as nossas expectativas, na medida em que sentimos a necessidade de prolongar a mostra etnográfica até às 17:00h por iniciativa dos próprios mestres, que se entusiasmaram com o elevado número de vendas, e mesmo pelos visitantes. Os mestres venderam alguns dos seus produtos, também no seguimento do nosso projecto. Na verdade, alguns dos mestres derivado da idade avançada apresentam problemas de comunicação e a presença de alguém que funcionasse como mediador facilitou a venda dos seus artefactos.
O projecto “Arte Nossa” teve como objectivo envolver a comunidade contudo, em parte, este objectivo não foi realizado na sua plenitude visto que, ao contrário do que se passou na palestra, a maior parte das pessoas que participou na mostra etnográfica foram estrangeiros que estavam de visita à vila. Mais uma vez, atribuímos este facto, ao pouco tempo disponível para a divulgação deste projecto.

Recursos Humanos e materiais necessários para a execução do projecto

Palestra
Recursos Humanos:

  • Dois oradores (um mestre de um ofício e um(a) professor(a) da Escola Superior de Educação envolvido nestas temáticas);
  • Um moderador;
  • Motorista;
  • Um técnico de audiovisuais.

Recursos Materiais:

  • Um computador
  • Uma câmara de filmar;
  • Um projector;
  • Uma câmara fotográfica;
  • Um centro de mesa;
  • Pastas;
  • Canetas;
  • Águas;
  • Copos;
  • Pratos;
  • Bolos.

Mostra Etnográfica

Recursos Humanos:

  • Uma Mestre em Trapologia;
  • Uma Mestre Boleira;
  • Um Mestre Barbeiro;
  • Um Mestre Tipógrafo;
  • Um Mestre em Arte Pastoril;
  • Um Mestre na Arte do Ferro;
  • Um Técnico de Turismo (para garantir a divulgação/entrega do percurso etnográfico no Posto de Turismo);
  • Um cozinheiro para confeccionar o jantar de convívio.

Recursos Materiais:

  • Pastas;
  • Panfletos;
  • Corda;
  • Fita adesiva;
  • Madeira de choupo;
  • Câmara de filmar;
  • Câmara fotográfica.


Agradecimentos

Não poderíamos deixar de agradecer a todos aqueles que tornaram este projecto possível, assim, queiramos agradecer a todos os mestres que se disponibilizaram a trabalhar connosco; à D. Esperança Coelho, D. Belmira Branquinho, Sr. Francisco Viegas, Sr. João Marmelo, Sr. Carolino Tapadejo e ao Sr. Manuel Mouta.
Não podemos também de deixar de agradecer à Dr.ª Conceição Cordeiro por todo o material que nos disponibilizou para a investigação bem como, pela sua emocionada apresentação na palestra de dia 30. Ao Mestre Mamede Pedrico pela sua presença e belíssima intervenção na palestra. À esposa do Sr. António Paixão por ter estado presente. À OCRE que colaborou connosco desde o inicio do projecto sendo o seu apoio essencial na sua realização, bem como à Câmara Municipal de Castelo de Vide pela pessoa de António Pita que nos apoiou no projecto disponibilizando todos os espaços e equipamentos necessários à sua concretização.
Os nossos agradecimentos vão também, para a Região de Turismo pelo apoio prestado, assim como para o Posto de Turismo de Castelo de Vide pela forma como nos receberam e colaboraram connosco.
E por fim, mas igualmente importantes queríamos salientar o apoio prestado pelo Instituto Politécnico de Portalegre e pela Escola Superior de Educação de Portalegre. E um agradecimento especial ao Dr. Avelino Bento que orientou este projecto ajudando-nos e incentivando-nos.

Mostra etnográfica "Arte Nossa"

Recursos Sócio-Culturais,


Museus, escolas e recursos de saúde

Recursos Sócio-Culturais




Associações

Recursos Sócio-Culturais




Património


Recursos Sócio-Culturais


Igrejas

Equipamentos sociais e colectivos


O concelho possui 4 freguesias: S. João Baptista, Santa Maria da Devesa, Santiago Maior, localizadas na sede do Concelho e Nª Srª da Graça de Póvoa e Meadas, sendo esta última uma freguesia rural de Castelo de Vide. Desta forma iremos caracterizar os equipamentos sociais e colectivos de Castelo de Vide e da sua freguesia rural:

Indicadores sociais

A população de Castelo de Vide tem apresentado, ao longo do tempo, uma reduzida dimensão populacional, sendo que dos 3872 habitantes no concelho, 669 possuem idades iguais ou superiores a 75 anos, o que evidencia o envelhecimento populacional de 226,8%, representando 227 idosos por cada 100 jovens.
De facto, segundo os Censos (2001) a taxa de mortalidade, em Castelo de Vide, era de 18,0% e apresentava valores de mais do dobro da natalidade (6,3%), muito embora os saldos migratórios tenham aumentado, no que concerne à população que se tem vindo a fixar na região.
A nível de população dependente, a taxa é de 43,1% (2001).
No respeita ao analfabetismo, a taxa é de 20,5% no concelho, verificando-se muito superior à nacional.
Por outro lado, a percentagem de idosos que vivem isoladamente é de 16,2%, com maior incidência nas mulheres (elevado número de viúvas). Neste sentido, os Centros Dia disponíveis em Castelo de Vide apenas cobria, em 2005, 2,2% desses casos (muito próxima da taxa nacional – 2,4%, e da taxa do distrito de Portalegre – 2,5%). O mesmo ocorre relativamente ao Lar de Idosos que apresenta uma taxa de 12,9% (sendo a nacional de 3,3%, e a do distrito de 6,8%). Os beneficiários da Apoio Domiciliário é de 4,1% (2005), enquanto a taxa a nível nacional é de 3,7%, e a do distrito de 5,4%.
Existem (2004) 27,7% de pensionistas por velhice (valor médio das pensões de 3553 €), e 9,6% de pensionistas por sobrevivência (valor médio anual de 1890 €).
Relativamente à saúde verifica-se que o concelho de Castelo de Vide possui, por cada 1000 habitantes (2003), 2,6 enfermeiros, 2,1 médicos e 0,8 farmacêuticos.
Quanto ao desemprego, este atinge uma taxa de 3,6% no sexo masculino, e de 8,5% no sexo feminino.
Quanto aos edifícios (2006) existem 1516 alojamentos ocupados por residência de habitação (cerca de 52,8% dos edifícios), num total de 2871, construídos antes de 2001. Deste número total de edifícios, 197 (13,0%) foram construídos antes de 1919.
Importa ainda referir que 2,2% do número total supra-citado são edifícios para demolição dos quais:
A 8 Alojamentos não têm electricidade (0,5%);
A 55 Alojamentos não têm retrete (3,6%);
A 4 Alojamentos têm retrete fora do alojamento, mas no edifício (0,3%);
A 11 Alojamentos têm água proveniente de fontanário ou bica (0,7%);
A 25 Alojamentos têm água proveniente de poço ou furo particular (1,6%);
A 2 Alojamentos têm água proveniente de outra forma (0,2%);
A 4 Alojamentos têm água fora do alojamento, mas no edifício (0,3%);
A 169 Alojamentos não têm instalação de banho ou duche (11,1%);
A 92 Alojamentos não têm aquecimento (6,1%).

Sobre a vila

Castelo de Vide, a vilazinha medieval, cidadezinha moderna, é sem dúvida peculiar. Desde logo, pelo vasto e riquíssimo património que herdou, quer da arquitectura civil, quer da militar e que em tudo contribuíram para a sua classificação como monumento nacional. Este conjunto patrimonial resulta, então, num centro histórico circunscrito por cerca de 2,5 km de muralhas, que desempenham agora a função de miradouros, possibilitando a contemplação de paisagens absolutamente fabulosas.
Vagueando pelas suas floridas ruelas estreitas e sinuosas, percorrendo desde o Burgo e a Judiaria Medievais até às Praças modernas, constantemente os olhos atentos tropeçarão na imensidão de elementos artísticos e de símbolos que imortalizam a história de outras gentes, a memória de outras culturas.
A riqueza ambiental que envolve Castelo de Vide resultou na sua classificação como parte integrante do Parque Natural da Serra de São Mamede, aliciando os mais aventureiros à realização de percursos que facilitam a descoberta de ambientes maravilhosos.
De facto, toda esta região carrega uma pesada herança cultural, que se transmite de geração em geração, perpetuando a identidade colectiva de um povo que se apresenta tão afável e hospitaleiro.
Através dos vestígios arqueológicos que remontam o paleolítico (menir da meada, necrópole megalítica dos coureleiros, construções de falsa cúpula, várias antas, etc.) confirma-se a presença e permanência de ocupantes na região ao longo de milhares de séculos.
É portanto, indubitavelmente, por todos estes motivos que Castelo de Vide se tem destacado como um destino turístico por excelência, por sua vez, potenciado por todo o património que esta simpática vila consagra.

Palestra

Palestra "Ofícios do passado, autenticidade no futuro"
Data; 31 de Maio de 2008
Local; Centro Municipal de Cultura (Centro Cultural)
Horário; inicio às 18h
No âmbito da Unidade Curricular de Projecto do terceiro ano do curso de Animação Sociocultural da Escola Superior de Educação de Portalegre desenvolvemos um projecto intitulado “Arte Nossa” que se prende com a valorização dos ofícios Castelovidenses.
Neste sentido no dia 30 de Maio de 2008 , pelas 18 horas realizar-se-á uma pequena palestra sobre este tema intitulada “Ofícios do passado, autenticidade no futuro”, com o intuito de debater-se a importância dos mesmos enquanto forte potenciador de desenvolvimento local e regional, esclarecendo-se portanto a necessidade imperiosa da sua valorização, porquanto apelam à genuinidade e autenticidade da região. Este seminário tem, então, como objectivo consciencializar a população quer sobre a importância que estes ofícios assumiram no passado, quer enquanto alavanca no que concerne a futura revitalização destas questões, tal como do “saber-fazer", de grande utilidade prática para a população.
Neste sentido, teremos como oradores;
· Drª. Conceição Cordeiro, docente da Escola Superior de Educação que apresentará o tema:”As identidades; artes e ofícios tradicionais”. Esta apresentação consistirá numa reflexão sobre a importância deste ofícios num contexto de aprendizagem no ensino superior e especificamente no contexto do curso de Animação Educativa e Sociocultural.
· Mamede Pedrico, mestre na arte da alvenaria. A sua apresentação consistirá na apresentação do seu ofício.

Mostra Etnográfica

Mostra de Ofícios
No âmbito da Unidade Curricular de Projecto do terceiro ano do curso de Animação Sociocultural da Escola Superior de Educação de Portalegre desenvolvemos um projecto intitulado “Arte Nossa” que se prende com a valorização dos ofícios Castelovidenses.
Neste sentido, irá decorrer no dia 31 uma mostra etnográfica viva de antigos ofícios. Esta mostra terá a forma de um circuito a começar pelas 10:30 na Praça D. Pedro V junto ao Posto de Turismo e a terminar às 12:30. Durante este período os visitantes terão toda a liberdade de fazer o circuito ao seu ritmo.
Esta actividade inicia-se na Praça D.Pedro V onde as pessoas terão acesso a um folheto informativo sobre o Projecto e com um mapa de onde poderão encontrar outros ofícios. Neste sentido, as pessoas irão circular à vontade podendo aproveitar para dar um passeio pela vila.
Os Mestres e os seus ofícios;
Francisco Viegas
Arte Pastoril
Belmira Branquinho
Bolaria
Esperança Coelho
Trapologia
Carolino Tapadejo
Trabalho em ferro forjado
João Chaves
Barbeiro
Manuel Silva
Tipografo

Cada um dos mestres estará nos locais onde habitualmente trabalha a desenvolve a sua actividade a fim de que os visitantes possam ver o seu ofício e ouvir um pouco sobre ele. Estará também junto de cada mestre um pequeno folheto falando do mestre e do seu ofício.

Divulgação

A divulgação foi um dos apoios prestados pelo IPP. Assim, enviamos a descrição do nosso projecto ao Instituto que prontamente editou uma nota no seu sítio. Assim como enviou uma nota de impressa para os jornais locais e regionais.
A divulgação passou também pela realização de cartazes a fim de publicitar as duas actividades que constituem o nosso projecto. Neste sentido construímos, primeiramente um cartaz, contudo o mesmo não era representativo da ideia do nosso projecto e por isso construímos um outro, esse sim muito mais explicativo do nosso projecto. A ideia que pretendíamos realçar no cartaz foi a ferramenta comum a todos os ofícios, as mãos. Assim, a imagem no cartaz que imprimimos é a das mãos do tipógrafo, um dos ofícios explorado. No entanto escuressemos bastante o cartaz para não se notasse desmaiado de que oficio se tratava a fim de não dar mais relevância a um do que aos outros.

Dia 26, 27, 28, 29 de Maio

Continuámos a trabalhar os textos para colocar no blogue, bem como no tratamento e edição de imagens.
E tivemos uma reunião com o Sr. presidente da Escola Superior de Educação de Portalegre, com o intuito de, mais uma vez, pedirmos apoio a nivel de impressões. Foi-nos, então, cedida a impressão de 70 fotocópias a preto e branco, 30 a cores e ainda o centro de mesa para a palestra.
Tratámos e confirmámos toda a burocracia referente à realização da palestra, como seja o local, os oradores e os recursos materiais disponíveis; bem como da mostra etnográfica que decorrerá na manhã de 31.
Entregámos convites aos professores, e procedemos à divulgação do projecto, com a afixação de cartazes e distribuição de flyers.

Dia 24 e 25 de Maio de 2008

No dia 24 voltámos novamente a Castelo de Vide para entrevistar e filmar o nosso mestre de arte pastorial, bem como para voltar a falar com todos os intervenientes no nosso projecto, de modo a efectuarmos um ponto da situação, a tomar-mos nota das necessidades apresentadas.
No dia 25, dedicámo-nos a sintetizar toda a informação resultante da investigação efectuada.

21 e 22 de Maio de 2008

No dia 21 dirigimo-nos a Castelo de Vide a fim de realizarmos a entrevista e respectiva filmagem à D. Belmira, a nossa mestre boleira.
Continuamos a proceder à investigação e à contextualização teórica do nosso projecto.
No dia 22, tivemos uma reunião com o Dr. Nuno Oliveira, presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, com o intuito de saber so o Instituto nos poderia apoiar no desenvolvimento do projecto. A resposta foi positiva, e desde logo se comprometeram a dar-nos 150 pastas e 150 canetas para a palestra, a impressão de 6 cartazes em A2, a cores, e 30 cartazes A3, a cores também.

Mestes e Ofícios

Formalização para o pedido de verbas

Exmo(a). Senhor(a)
No âmbito da Unidade Curricular de Projecto do terceiro ano do curso de Animação Sociocultural da Escola Superior de Educação de Portalegre foi-nos proposto a realização de um projecto de cariz comunitário.
Efectivamente, urge a criação de pontes entre a Escola e a comunidade para que a contribuição dos estudantes seja efectiva e vá ao encontro das necessidades das populações locais promovendo o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos endógenos. Esta ligação torna-se ainda mais pertinente no contexto geográfico e social em que estamos inseridos - Alto Alentejo - interior do país que apesar dos problemas que o caracterizam é também, uma zona de inúmeras potencialidades, daí que a nossa escolha tenha recaído sobre uma associação sedeada em Castelo de Vide cujo âmbito de intervenção se alarga ao norte alentejano.
O Projecto " Arte Nossa" nasce pela necessidade de atribuir um novo ênfase às questões dos ofícios tradicionais de Castelo de Vide, uma vez que enfrentam o risco de desaparecer por completo, perdendo-se, assim, parte da memória colectiva de Castelo de Vide e, consequentemente, da sua autenticidade. É neste sentido que pretendemos não somente apresentar alguns destes ofícios, como também debatê-los num contexto teórico e numa perspectiva futura. Assim, o projecto incidirá em dois aspectos distintos mas que se complementam: por um lado a mostra de ofícios que será apresentada em pontos específicos da vila que o visitante percorrerá; por outro lado, um debate sobre a importância dos ofícios enquanto manifestações da identidade e autenticidade de Castelo de Vide, bem como promotores de desenvolvimento local.
O projecto “Arte Nossa” irá decorrer na tarde de 30 de Maio e na manhã de 31 do respectivo mês, no presente ano. Assim, durante a manhã haverá uma pequena palestra intitulada “Ofícios do passado, autenticidade no futuro” que terá dois oradores, devendo um deles estar ligado aos antigos ofícios de Castelo de Vide, com o intuito de debater-se a importância dos mesmos enquanto forte potenciador de desenvolvimento local e regional, esclarecendo-se portanto a necessidade imperiosa da sua valorização, porquanto apelam à genuinidade e autenticidade da região. Este seminário tem, entao, como objectivo consciencializar a população quer sobre a importância que estes ofícios assumiram no passado, quer enquanto alavanca no que concerne a futura revitalização destas questões, tal como do “saber-fazer", de grande utilidade prática para a população. Por sua vez, durante a manha do dia 31, estabelecer-se-à um circuito pela vila que comporta uma mostra viva de alguns dos ofícios característicos da mesma (pregoeiro, barbeiro, bordadeira, arte campestre, ferro forjado, boleira e tipógrafo), a fim de estabelecer um contacto directo entre a realidade apresentada que já não é a realidade actual. O circuito irá decorrer da seguinte forma: Primeiramente haverá na praça de D. PedroV um pregoeiro (primeiro ofício) que irá apregoando sobre as actividades a decorrer, enquanto entrega folhetos que contêm informação acerca do ofício já extinto e sobre o projecto que o contempla. De seguida, as pessoas dirigem-se livremente a outros locais que estão assinalados no mapa que consta nos folhetos. Em cada local estará um mestre de cada ofício que o demonstrará e explicará, bem como uma breve biografia dos próprios artífices.
É neste contexto, e por se tratar de um projecto sem fins lucrativos em que os custos rondaram os 400 € que pedimos a vossa excelência que nos apoiasse a este nível com o contributo que pudesse prestar de forma a podermos concluir o projecto final de curso.
Para mais informação à cerca do projecto poderá consultar o nosso blogue em
http://www.artemaisnossa.blogspot.com/ ou contactar-nos no seguinte e-mail animaese@gmail.com ou pelos telefones 917493751 Liliana Ferreira ou 964689374 Tiago Trindade

Sem outro assunto de momento, aguardamos uma resposta brevemente
Subscrevemo-nos com elevada estima e consideração.
Atenciosamente
Portalegre, 19 de Maio de 2008

Ofício

Com efeito, podem existir várias interpretações para artesanato, dado o seu carácter abrangente… No entanto, segundo a legislação portuguesa, Portaria nº 1099/80 de 29 de Dezembro, “ considera-se artesão o trabalhador que, isoladamente, em unidade de tipo familiar ou associado, transforma matérias-primas e produz ou repara objectos, ao qual se exige um certo sentido estético e habilidade ou perícia manual, podendo, no entanto, usar máquinas como auxiliares de trabalho, e cuja intervenção pessoal, dominando todas as fases do processo produtivo, constitui factor predominante no mesmo, ao contrário do que se passa na actividade industrial ou de produção em série” (VIDEIRA, Henrique, 1997, pp.34,35).
Deste modo, o artesão, ou mestre, é aquele que, em sua própria casa ou oficina, produz objectos de uso doméstico, de forma manual ou mecânica, e lhes incute um carácter pessoal, no que se diferencia do operário industrial.


Os ofícios e o artesanato constituem, sem dúvida, a forma mais antiga da actividade profissional. Durante a época da Antiguidade Clássica a actividade artesanal encontrava-se circunscrita aos escravos. Foi na Idade Média que os ofícios alcançaram todo o seu esplendor. Durante esse período criaram-se obras de arte excepcionais (catedrais, palácios, trabalhos em ferro forjado, vidraria, etc.) e os mestres artesãos transformaram-se na força mais importante da economia urbana.
De facto, até meados de 1834, com o banimento da Monarquia, as Corporações sempre procuraram dignificar o trabalho mecânico, através da promoção social dos mestres.
Desta forma, e perante uma crescente prosperidade económica, em muito impulsionada pelo próprio desenvolvimento das artes e dos ofícios, encontramos a burguesia dos artesãos e artífices em profunda ascensão social. Assim, estes juntam bens, exercem funções político - administrativas e criam uma “nobreza própria” que acaba por facilitar a mobilidade entre as três classes que estruturam o reino.
Neste contexto, destacavam-se as Corporações dos Ofícios bastante convictas no poder do associativismo. Adquiriram, portanto, mais poder e, consequentemente, mais prestígio (PINTO, 1974).



Porém, com o aparecimento das empresas fabris, durante a segunda metade do séc. XVII parecia que os ofícios estavam condenados a desaparecer. Produziu-se realmente uma alteração de estruturas: todos os produtos que podiam fabricar-se em série foram sendo fornecidos pela indústria, enquanto aqueles que permaneciam exigindo uma manufactura individual, pessoal e de grande qualidade ou técnica artística eram produzidos pelos artesãos.
A massificação da produção veio trazer alterações significativas no modo de vida das populações, as comunidades sempre adaptaram os seus recursos às suas necessidades, traduzindo-se assim na produção de bens específicos para responder às necessidades dessa mesma sociedade.
Em Castelo de Vide os ofícios são indissociáveis da sua história.
Quando os judeus vieram para cá no século XIV uma das importantes formas das pessoas ganharem o seu sustento era fazendo fardas para os exércitos. Assim, se criou toda uma dinâmica na judiaria que até ao inicio do século se a fechassem conseguia ser auto-suficiente, tal como tem vindo a estudar o Sr. carolino que se dedica a estas questões á mais de 30 anos.
Inicialmente faziam-se fardas, que deu origem a que se instalassem também as tinturarias, gerando um verdadeiro motor de desenvolvimento assim, vieram os sapateiros, as pessoas que faziam botões, os alfinetes ferreiro. Fazendo desta notável vila uma “vilazinha medieval, uma cidadezinha moderna” é a frase que para Carolino Tapadejo mais descreve a vila esta dualidade entre a história do burgo e o forte traço da serra.
Assim, o projecto Arte Nossa pretende explorar esta temática, debruçando-se sobre os seguintes ofícios:
  • Arte Boleira;
  • Arte de trabalhar o ferro;
  • Arte Pastoril;
  • Arte do Barbeiro;
  • Arte da Trapologia;
  • Arte do Tipógrafo;

A escolha destes ofícios prende-se com questões meramente metodológicas, no sentido em que, os mestres possuiam ainda as ferramentes nessecárias à sua profissão, bem como continuam a trabalhar, nem que seja esporadicamente, contudo temos a certeza de que existem muitos outros ofícios de igual importância em Castelo de vide.

Arte do Tipógrafo

É no Largo João Le Cocq em Castelo de Vide, que encontramos a antiga tipografia, herança deixada pela ilustre família Le Cocq.
Ao entrar na envelhecida tipografia cinzenta, onde perdura um cheiro a tinta e papel, encontramos o Sr. Manuel Silva, que recorda que a última impressão tipográfica em Castelo de Vide foi à cerca de 10 anos, tendo, ele mesmo, participado no processo de impressão tipográfica, do Jornal Local “Castelo Vidense”.
De facto, os novos processos de mecanização e de edição de texto acabaram por seduzir o Sr. Silva, que conhecendo a complexa técnica tipográfica, a troca pelos facilitismos oferecidos pelas novas tecnologias. Aprendeu o ofício com o seu irmão que o desenvolveu com mestria durante 40 anos.
Compreensivelmente, como nos conta o Sr. Manuel, as exigências de um mercado em constante competitividade, impôs a necessidade de dar respostas cada vez mais ajustadas à época, sendo, neste mesmo sentido, orientado pelo processo informático que desenvolve o seu trabalho..
Com efeito, entende-se por tipografia a arte de compor e imprimir com caracteres e, clichés em relevo. Na verdade, a tipografia engloba uma série completa de operações relativas ao fabrico e ao emprego de caracteres. A sua invenção é atribuída a Joannes Gutenberg, que terá efectuado as suas primeiras experiências cerca de 1440, e cuja principal inovação consistiu na criação de moldes manuais para fundir os caracteres soltos.
A impressão tipográfica assume-se, portanto, como um complexo e trabalhoso método de impressão. Efectivamente, para a elaboração de uma página de jornal é necessário definir, sempre manualmente, a espaço entre as letras e as linhas, bem como o tamanho dos próprios tipos. Utilizava-se igualmente as zincogravuras, que representavam desenhos, simples formas geométricas, que funcionam como logótipos. Por outro lado, as páginas dos jornais eram compostas em tabuleiros armados, que por vezes chegavam a pesar 40 kg, e que demora cerca de 20/30 minutos a organizar, por aqueles que dominam a arte de imortalizar nas brancas folhas a tinta indelével que imprime no tempo as memórias passadas.


Arte da Trapologia



Perto dos 82 anos, que irá celebrar no dia 3 de Agosto, D. Esperança Coelho mantém-se ainda muito activa e cheia de alegria. É no número 26 da Rua direita do Castelo que esta senhora guarda a chave de muitos tesouros, a igreja de Nossa Senhora da Alegria e os seus tão bonitos e perfeitos trabalhos em trapologia.
D. Esperança não nasceu em Castelo de Vide é natural de Lisboa mas foi cedo e por imposições da vida que o seu caminho a levou a esta vila onde casou, enviuvou e agora vive sozinha.
Antes de se dedicar ao ofício da trapologia era dona de casa, trabalhava no campo e costurava, sobretudo, fatos para homem. Começou por fazer pegas e almofadas seguindo-se as colchas para camas, um trabalho mais difícil e moroso mas sempre com a mesma perfeição e perícia que caracterizam a arte. O seu volume de trabalho poderia ter crescido se Belmira tivesse ido vender para Lisboa, como houvera sido convidada em tempos. De facto, esta senhora foi sempre uma autodidacta quando lhe perguntamos quem a ensinou a coser ela de imediato responde “amanhada, nunca ninguém me ensinou.”.
D. Esperança vive, hoje, rodeada dos seus trapos que corta e coze milimetricamente, construindo as mais variadas formas, com as mais diversas utilidades. Dois dos trabalhos que executa com mais frequência são os sacos para o pão e os aventais, que demoram cerca de dois dias a fazer. Orgulha-se de, devido a esta arte tão nobre da qual se fala tão pouco, tenha ido já à televisão, tendo mesmo sido entrevistada por alguns jornais. A técnica é simples, corta-se os bocados de tecido (ou quadrados ou tiras) e ao primeiro que ficará no meio vão-se juntando outros, aos poucos outros e outros, de muitas cores, criando uma miscelânea colorida ao gosto de quem as coseu.
Que valeria cada pedaço de tecido isolado? Agora juntos são uma colcha, uma pega ou um saco… antigamente servia-se com os retalhos de Lisboa mas, como diz, desde o ano de 2000 que cada vez vende menos e por isso já lhe servem os retalhos de Castelo de Vide. Contudo, é com o mesmo amor e dedicação que coloca em cada ponto a linha que vai perpetuando este ofício tão singelo.

Barbeiro


Embora o barbeiro seja comummente designado como aquele que por ofício rapa ou apara barbas e corta o cabelo dos homens, a verdade é que o papel que tem desempenhado ao longo da história é bem mais profícuo do que normalmente julgamos.
Com efeito, em terras pequenas acontecia por vezes, que os antigos barbeiros acumulavam, igualmente, a arte da pequena cirurgia, quer fosse a sangrar ou a tirar dentes.
Efectivamente, este ofício tinha já no séc. XVI regimento próprio, dado pelo Senado de Lisboa. Em 1604 Manuel Leitão publicou uma obra curiosa cujo título é: "Práticas de barbeiros em 4 tratados, em os quais se trata de como se há-de sangrar e as cousas necessárias para a sangria e juntamente se trata em que parte do corpo humano se hão-de lançar as ventosas assi secas como sarjadas (…)" (CRAESBREECK, Pedro, 1604).
Foi a partir do séc. 1000 que o barbeiro começou a ganhar grande importância, não só pela sua arte ocupada em tonsurar os monges, mas também em sangrá-los, segundo as regras monacais. De facto, o barbeiro foi considerado um verdadeiro prático no seu mister de cirurgião e sangrador, até ao final do séc. XVIII, momento em que tais práticas lhes foram proibidas, sob pena de incidirem em infracções legais se continuassem o seu exercício.
Assim, com o passar dos tempos e a adaptação a novos costumes, a grande maioria dos barbeiros tem sentido o declínio da clientela, que prefere os modernos e sofisticados cabeleireiros.
Com efeito, o manuseamento ágil dos utensílios no acto de cortar cabelos e barbas, que anos e anos de prática ajudam a consagrar, representa um verdadeiro serviço personificado à comunidade e que resulta num compromisso social partilhado entre os clientes frequentes e o barbeiro.
Deste modo, a barbearia distingue-se como um local profundamente social, onde as desprendidas conversas trocadas na antiga cadeira verde são a ordem do dia, produzindo um clima de empatia e bem-estar comum.
E encontramos na animada “barbearia do Chinês”, sempre aberta, uma pequena porta que nem assim consegue esconder a mestria de quem com uma boa disposição contagiante manuseia com perícia os instrumentos que fazem de sim um caso impar. Referimo-nos a João Marmelo Chaves, que abraçou esta profissão há cerca de 60 anos atrás. Aprendeu esta arte, com os mestres barbeiros de Castelo de Vide, que em tempos chegaram a ser treze.
Desde os seus doze anos de idade, que aprendera a manejar a tesoura, nas várias casas de barbearia, onde inicialmente não recebera ordenado, pois a sua retribuição era paga com a aprendizagem do ofício.
Depois de 3 anos de aprendizagem, até desempenhar correctamente o ofício, trabalhou ainda em várias barbearias de Castelo de Vide, abrindo, posteriormente, o seu próprio negócio no qual se mantém à 54 anos, perpetuando a existência da última barbearia da vila.
A sabedoria que muitos anos de prática permitem, foi já transmitida a 20 rapazes a quem ensinou o antigo ofício, acabando muitos deles por trabalhar na Suíça e em Londres, certamente motivados pela habilidade e concepção natural de quem faz de um ofício uma vida!
Na verdade, na barbearia do Sr. João Chaves, nunca faltou gente. Desde a sua abertura matinal até fechar a porta, já ao entardecer, há sempre quem deite uma espreitadela, nem que tão simplesmente para esboçar um cumprimento.
De facto, a “barbearia do Chinês” é um exemplar copioso da barbearia de há 54 anos atrás… Tudo nela é igual e se encontra igualmente disposto, só os rostos que por ela ficam e se perdem, atestam, à semelhança dos próprios objectos, a inevitável passagem do tempo. O Sr. Chaves relata também orgulhosamente que as cadeiras lhe “custaram 4200 escudos” e até que um senhor americano, à cerca de cinco anos, lha quis comprar uma delas pela quantia de 600 euros, negando-se de imediato a vendê-la.
À bancada por onde se distribui todo o seu material dá-se o nome de tanjete. Esta dispõe um conjunto de utensílios necessários à sua prática diária, nomeadamente, a taça da espuma, o espanador, a escovinha, a tesoura, a navalha e os cremes.
Com seu ar simpático e entusiástico, o Sr. Chaves confessa que “ fazer a barba, custa só um euro”, um preço simbólico, para uma prática que há muito se vem perdendo no tempo.
Na verdade, com humildade e igual devoção ao ofício que desenvolve, afirma que a barbearia se encontra aberta semanalmente, das 9 horas às 19horas, encerrando somente aos domingos e 2ª feiras de manhã, dia em que se desloca ao “Albergue” para fazer, também aí, a barba aos utentes.
Contudo, paralelamente à profissão de barbeiro, esteve envolvido em muitas outras actividades, que atestam a sua iniciativa e apurada sensibilidade. Esteve, portanto, ligado ao Grupo de Teatro de Castelo de Vide, onde representou inúmeras peças, tais como “A Barca do Inferno”de Gil Vicente, afirmando ainda sabê-la de cor. Foi também membro da Banda Filarmónica de Castelo de Vide, onde tocou trompete, chegando a trocar a sua barbearia pelos concertos que realizavam em Setúbal, Lisboa e Estremoz. Afirma que “…eram as únicas alturas em que encerrava a barbearia”.
“ Nesta vida, eu não fazia só barba nem cortava cabelos” – afirma Sr. João Chaves, que há cerca de dois anos, se viu obrigado a encerrar, a única casa que vendera “jogo” em Castelo de Vide, e que mantinha há 50 anos, onde era agente do campeão.
Chegou também a ser em tempos passados, agente funerário. Com a experiência destes tempos, surgem histórias caricatas, que ocorreram em tempos passados. São memórias que contagiam o seu percurso de vida e que faz questão de partilhar, com os seus clientes e amigos.
Efectivamente, no longo trajecto da vida, ténue como um fio de cabelo, os seus clientes mais antigos acabaram por falecer, conseguindo identificar perfeitamente o pai do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide como o seu mais antigo cliente vivo.
Os dias em que havia maior freguesia na barbearia seriam, noutros tempos, as sextas-feiras e os sábados, porém actualmente o panorama é diferente, e todos os dias se vai trabalhando. Presentemente, o sábado surge como o dia mais fraco.
E ao reflectir no seu meio século de prática deste ofício afirma levar muitas amizades e uma “ bagagem repleta de histórias de muitas vidas”, que foram cortadas e aparadas por aquele que, preservando uma paixão inesgotável à arte que tranquilamente desenvolve, levará sempre consigo os sorrisos daqueles que entraram “na sua barbearia verde…”

Arte Pastoril

No ano em nasceu Sr. Francisco Viegas tudo era diferente estávamos no ano de 1934 e Portugal era ainda um país fortemente rural. Castelo de Vide apesar das suas características de cidadezinha moderna compactuava com este estado da nação. De facto, eram muitos os Senhores que tinham terras, propriedades fundiárias que precisavam de gente para trabalhar a terra, para guardar os animais.
Estas herdades eram frequentemente, designadas como “monte” que era um local longe da vila para onde os lavradores produziam o seu trabalho agrícola. O “monte” era formado pela residência do lavrador, uma pequena casa solitária caiada, estábulos e arrecadações. Dos montes “avistavam-se apenas outros montes ou pequenas casas ao acaso, pelas tapadas, também sós e acanhadas, onde se guarda palha e dormiam não há muito os boieiros”. Na ausência dos patrões este ficava ao encargo do caseiro que deveria zelar pela horta e pelos animais e que vivia no monte ou então numa pequena casa a ele destinada.
Na década de 50 ainda os serões no “monte” eram animados era ai que se reunia toda a família do lavrador e da criada os caseiros, os ganhões, o abegão, os criados, o porqueiro e finalmente o vaqueiro que nem sempre podia estar presente. No monte cada um tinha a sua tarefa bem definida Nos “posies” ficava o cabreiro e o pastor a guardar os rebanhos quando á noite se fechavam as cancelas de paus e que no inverno eram guardadas pelos cães. Habitam com as mulheres e por vezes com os filhos o “sôche”, pequeníssima choça cujo esqueleto de madeira de carvalho ou salgueiro era forrado de “pa(o)lha, ça(e)enteia malha(o)da”. A cama era feita no chão sobre a camada espessa de mato. Nas saliências de madeira ficavam pendurados os objectos de madeira de uso diário, tais como as panelas uma cesta onde se guardava o toucinho e a “corna” do sal, um alforge de trapos debruado, onde estava o pão e as mercearias que traziam à sexta-feira da vila.
O lume era acesso a meio do espaço com três pedras que serviam de trempe onde se colocavam os tachos e a caçarola.
No verão iam para a sombra do chaparro onde também se ordenhavam as ovelhas e as cabras e o leite era transportado para o “monte” à cabeça do pastor ou do cabreiro se a quantidade não se justificasse seria o criado que pegando nos “latons” os levava no dorso de um burro. O pastor deveria fazer uns corredores que dava o nome de aprisque sendo ai que mugia as ovelhas e as cabras.
As mulheres dos cabreiros e pastores cuidavam da casa e da comida e trabalhavam também no campo. O milho de sequeiro era semeado nas baixas dos ribeiros onde também se semeava o “fejã(o) prête” .
O lavrador retalhava o campo por sulcos no tempo das sementeiras a que dava o nome de sortes. Sachavam amontoavam cortavam a folha do milho colhiam e desensamarravam o milho também malhavam e limpavam a eira depois eles ficavam com metade da produção pois tinham que dar ao lavrador aquilo que ele semeara estas eram as pessoas que vinham de fora dormindo muitas vezes ao relento ou em qualquer canto. (referencia do livro)
No monte a lavradora e as filhas fabricavam o queijo e tinham um forno onde também se fabricava o pão. Os vaqueiros guardavam e tratavam do gado bovino e como os animais dormiam sempre ao relento muitas vezes tinham as estrelas como tecto e outras a cama de palha perto do local onde andasse o gado.
0 Senhor Viegas nasceu em Povoa e Meadas mas cedo Castelo de Vide passou a ser a sua terra. Apenas com um ano e meio de idade seu pai foi caseiro numa herdade, que hoje se situa perto do quartel de bombeiros na terra que adoptou como sua, nas imediações havia uma carpintaria onde passava largas horas vendo as pessoas trabalhar a madeira.
Com tenra idade começou a trabalhar na vida do campo guardando gado. O tempo demorava a passar no longo Alentejo das searas e dos campos intermináveis. Assim, enquanto esperava, paciente que se alimentassem os que guardava, com as canas frechas e a sua navalha de inúmeras utilidades, indispensável instrumento de trabalho e de sobrevivência ia retalhando os pensamentos e dando forma às canas. Nunca ninguém lhe ensinou a arte aprendeu-a observando na carpintaria que ficava perto e nas longas horas de espera, de pastagem no sol ardente de baixo da solidão da imensidade alentejana. Então cortava o tempo, contava histórias, retalhava a sua fazendo as carroças ponto essencial da vida do campo mas também aquele em que acredita e em quem é devoto Cristo e porque não que os bonecos sejam parte da sua história.
De facto, a arte pastoril no Alentejo remete-nos já para tempos que nos parecem longínquos. Esta arte foi durante muito tempo uma actividade paralela á questão do pastoreio em que se matava o tempo alentejano produzindo os mais variados objectos utilitários, mas também decorativos (eram feitos chavões que serviam para marcar o pão no forno comunitário a tripeça os canudos de lareira rolos de estender a massa… a cortiça para o tarro coxos lancheiras molduras saleiros caixas de segredos etc. de chifre faziam-se as colheres garrafas, azeitoneiros, polverinhos, cornas para carnes ou azeitonas assobios, botões, travessas pentes pulseiras correntes etc.) tendo sempre como recurso os materiais mais próximos do pastor (madeira, canas, cortiça, junco, palha, bunho, chifres entre muitos outros dependendo apenas da imaginação e da habilidade). A navalha é, na arte pastoril, o elemento essencial, é ela que borda os materiais, que escava, que corta, recorta, entalha, encaixa e esgravata. Se por um lado a arte pastoril, nasce para suprimir muitas das carências e dos recursos materiais das quais as pessoas do campo sofriam criando objectos utilitários e de uso pessoal ela começou também assumir uma vertente mais decorativa, mas de uma forma ou de outra nunca esquecendo as questões estéticas. Muitas vezes alguns dos objectos produzidos no campo à sobra de qualquer chaparro era a prova da paciência de um amor cuja obra lhe era oferecida.
De facto, Francisco Viegas não borda colheres, nem caixas de segredos, mas os trabalhos que realiza são produzidos da mesma forma, com os mesmos recursos no mesmo contexto.
Francisco Viegas, homem de trabalho, (guardador de gado, ganhão, pedreiro, aleveneo, artista) está hoje reformado. Desde que deixou a profissão do campo que deixou de produzir estes trabalhos, voltando a produzi-los quando a doença se instalou e a reforma lhe deixou tempo para se sentar de novo no seu portal. Antes em cana hoje os seus trabalhos são feitos dos mais variados materiais como madeira (de vários tipos) e cortiça com alguns elementos em pele. Produz bonecos de madeira, Cristo-Reis, arados, carros de bois e carretas (antigas carroças), trabalhando em média uma hora por dia.

Arte de Trabalhar o Ferro


E o malho bate o ferro
e o ferro fica soando...
É a voz que vem não sei donde,
Já escutei não sei quando!

E o malho bate no ferro
e o ferro quase o incendeia…
trechos dum velho poema
em cada forja da aldeia!

A arte de trabalhar o ferro remonta a época em que os homens descobriram o metal e, compreendendo todas as suas potencialidades, foram aperfeiçoando a técnica de o trabalhar e moldar, fazendo dele um elemento imprescindível da vida quotidiana.
De facto, e embora se afirme que a arte de forjar lusitana não se equipara à de França, Espanha ou Itália, a verdade é que se olharmos atentamente depressa descobrimos marcas que atestam a criatividade, imaginação, perícia e habilidade dos nossos mestres, que com objectos repletos de simplicidade ou luxo, produziram admiráveis obras de arte!
Esta arte já era, portanto, “reconhecida” por D. Afonso Henriques que concedeu em 1145 aos “ Baronibus Bonis” de Coimbra a correcção dos foros e costumes, em que foram marcados novamente os preços das ferraduras, dos ferros de arado, das esporas, das armaduras, etc., para além do privilégio de que apenas os ferreiros que trabalhassem o ferro o poderiam vender, no intento explícito de incentivar a sua produção.
Foi, de facto, através dos monges de Cister que a arte do ferro começa a expandir-se pela Europa. Estes foram enviados por S. Bernardo, de Bolonha para Portugal, nomeadamente para os mosteiros de Alcobaça e S. João de Tarouca, onde aperfeiçoaram esta arte, que rapidamente se estende a cidades como Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa, Évora e Beja, onde podemos encontrar notáveis famílias de ferreiros (veja-se o caso dos Anes, de Gumarães -1337 a 1513 - ou os Fernandes de Lisboa, cujo fundador morreu em 1848).
Neste mesmo sentido, do período medieval também nos ficaram exemplares riquíssimos e que atestam a poder técnico e o apurado sentido estético que caracterizam os nossos artesãos. É de salientar, desde logo, a grade da Sé Patriarcal de Lisboa (séc. XIII); a grade da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães (séc. XV); a porta do antigo celeiro dos Bispos e do Baptistério da Sé, em Évora (séc. XV); a grade da galilé da Sé de Braga (1505-1532), etc.
Desta forma, e atestando a secularidade desta arte aferimos que a confraria dos ferreiros é uma das mais antigas em Portugal, remontando ao ano de 1229. Com efeito, em muitos documentos régios se referencia o ferro, incentivando-se, inclusivamente, a sua extracção e laboração nas terras de Aljustrel, Alandroal, Moncorvo, Penela, etc…
Por sua vez, do período manuelino há que destacar a grade da galilé de Braga, mandada executar pelo arcebispo D. Diogo de Sousa, e que acabou por marcar o estilo das reixas quinhentistas. Aqui, as curvas medievais são substituídas por varões de ferro ou cercadura de ornatos. Nas partes superiores podem observar-se uma linha de lanças ou espetos, sendo o remate trabalhado segundo os motivos presentes na pedra ou talha. Mas, é igualmente importante frisar a existência de três grades que se encontravam no mosteiro de Stª Cruz de Coimbra e que desapareceram, estando estimadas num valor excepcional.
Contudo, foi no período renascentista que as artes industriais atingem o seu apogeu. Na verdade, em certo momento, o desenvolvimento da arte do ferro foi de tal ordem, que começou a desarticular-se de outros trabalhos.
Foi, sem dúvida, a organização dos grémios de mestres que impulsionou o aperfeiçoamento das artes, tendo a arte de trabalhar o ferro perdido muito do seu valor após o enfraquecimento da acção promovida pela organização, no âmbito da formação dos mesteirais.
Com o início da quarta Dinastia as preocupações régias relativamente ao ferro mantêm-se, embora com intuitos mais práticos que artísticos… De facto, a insuficiência de material bélico e de ferro em vara e verga inquietava o rei D. João IV, que ordena em 1650 o restabelecimento das ferrarias de Tomar e de Figueiró dos Vinhos.
No decorrer dos séculos XVII e XVIII assiste-se à continuação do
“ (…) triunfo da ferraria artística. É por excelência a sua grande época, porque a técnica não cessa de progredir. Os mestres (…) duma habilidade extraordinária, eram capazes de realizar todo e qualquer conjunto, (…) de utilizarem ornamentos em folha de ferro, juntamente lindas incrustações de bronze e de latão, tornando as suas obras mais valorizadas e de superior gosto artístico”
[i]. Dir. LIMA, Fernando de C. Pires de – A Arte Popular em Portugal, vol. I, Editora Verbo, s.l., s.d., p. 194
No séc. XVIII, após o terramoto que destruiu por completo a cidade de Lisboa, os ferreiros desempenharam um papel activo de reconstrução de grades que acabaram por embelezar as varandas e sacadas dos edifícios. As ornamentações começam aqui adquirir um carácter mais leve e simples, à semelhança do período setecentista.
Contudo, em Portugal a partir do séc. XIX, como no resto da Europa, a utilização do ferro propagou-se a outros domínios, nomeadamente à arquitectura a à indústria, negligenciando-se o cariz artístico desta arte, em especial no que respeita os pequenos artefactos.
É, todavia, na segunda metade do séc. XX que o ferro fundido surge em substituição do ferro batido. O ferro fundido permite grades de desenho mais trabalhado, bordados densos e pesados. Porém, a técnica do ferro fundido era desde do séc. IV a. C. do conhecimento dos chineses.



A Arte do ferro fundido em Portalegre
Apesar de existirem registos de ferro artístico em todo o país, parece ser do consenso geral que é na região alentejana, em particular no Alto Alentejo, que a riqueza desta arte melhor se revela.
De facto, relativamente às peças encontradas nesta região, Luís Keil considera
“ (…) que se podem colocar no período mais antigo, que contudo não irá além dos meados do século XV, alguns exemplares, como a grade da sacristiada igreja do Convento de Avis, (…) Esse tipo, repete-se com variantes, nalgumas grades de Castelo de Vide, (...) KEIL, Luís – Inventário Artístico de Portalegre, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1943, p. LIII
Na verdade, no foral dado à vila de Castelo de Vide por D. Manuel I, em 1512, faz-se referência ao ferro e formas de o trabalhar, o que evidenciava a importância que atribuía à arte de trabalhar do ferro.
No reinado de D. Sebastião, a 15 de Novembro de 1558, foi concedido ao bispo de Portalegre, D. Julião de Alva, uma carta de privilégios para exploração das ferrarias que se encontrassem em Castelo de Vide, Marvão, Nisa, Portalegre e Alegrete, derivado da necessidade de ferro que se sentia no reino.
Por outro lado, a maioria das obras desta região concentram-se nas décadas de seiscentos, o que levou o mesmo autor a considerar que “ (…) e sobretudo no século XVIII que mais se deve ter trabalhado na arte de forjar, tecer e recortar o ferro (…). IGUAL A DE CIMA
Das obras de ferro que se salientam na região podemos destacar o fogareiro do Museu de Elvas (séc. XV), as grades do altar-mor da Igreja de Nossa Senhora da Estrela e de Stª Maria de Marvão, as grades do coro do Convento de Stª Clara de Portalegre (séc. XVI), a grade da capela de S. Pedro, da Se de Portalegre, as grades das varandas do Palácio Amarelo, na mesma cidade (séc. XVII) e as grades das sacadas do edifício do “Trem”, em Elvas (1714).
A Casa Museu José Régio contém no seu espolio um grande número de utensílios domésticos como espetos, descansos ou apoios de espetos, descansos de ferros de brunir a roupa, candeias, batentes zoomórficos, etc.,

Técnicas para trabalhar o ferro
1. À mão: quando todo o trabalho é esboçado e concluído sob a acção do martelo e de outras ferramentas de mão;
2. À máquina ou moldado: quando o metal é comprimido por meio de pancadas de corpo bastante pesado, entre formas ou moldes;
3. À prensa hidráulica: quando o metal é tratado como uma substância plástica que é obrigada a adquirir a forma de determinados moldes ou formas, sob o esforço contínuo de uma pressão hidráulica;
4. A quente, na forja: a operação consiste em aquecer o ferro para de seguida o caldear, encalcar, puxar, curvar, cortar, furar, etc., dando-lhe a forma e as dimensões desejadas. É a técnica mais delicada e difícil de executar, que requer um conjunto de outras operações. A saber:
· Caldear – Operação pela qual se liga entre si dois pedaços de ferro. Para realizar esta técnica é necessário aquecer as partes a ligar a uma temperatura tal que se tornem plásticas, de modo a que pela acção da martelagem as moléculas de uma e outra parte se interpenetrem e a força de coesão as ligue entre si formando um todo contínuo. Quando o ferro está quase a caldear lança-se-lhe por cima areia branca que funde sobre a parte aquecida, cobrindo-a de uma camada isoladora que impede a oxidação e refresca um pouco a periferia, dando tempo a que na parte interna a temperatura se eleve, tornando a massa mais uniforme.

· Encalcar – Consiste em exercer um esforço de compressão, no sentido da fibra, sobre uma barra ou varão de ferro, quando se pretende que este engrosse, nalgum lugar, com prejuízo do comprimento da vara, que se vê reduzido. Nesta operação é necessário que o ferreiro aqueça o ferro no lugar onde deve engrossar, fazendo esfriar as outras partes, que não devem mudar de forma, banhando-as em água fria. De seguida, a peça é malhada até se obter a grossura desejada.


· Puxar – Contrariamente à operação anterior, esta consiste em adelgaçar o metal, em benefício do seu comprimento. Para puxar a vara deve-se dar um calor no local adequado, colocar a vara sobre o cavalete, na zona de maior diâmetro e malhá-lo.

· Curvar – Para levar a cabo esta operação podem ser utilizados diferentes processos: 1) colocar o metal bem quente sobre o cavalete e batê-lo sobre a parte de fora até atingir a curva ou ângulo desejado 2) apertar a obra entre as bocas de um torno de bancada e bater no extremo livre até atingir o resultado pretendido 3) sobre um plano traçam-se as curvas que se desejam obter, tanto da parte côncava como da convexa, de forma a ficarem tangentes ao maior número possível de furos do pano. Dispõem-se um certo número de cavilhas, formadas por pedaços de ferro, que entram nos furos do pano, entre as quais se introduz, a quente, a peça que se pretende curvar. O metal curva-se sempre no sentido da fibra. A operação termina dando ao metal um calor ao máximo grau que este possa aguentar, de modo a evitar fendas ou outros defeitos.

· Cortar – esta operação é feita a frio, com o corta-frio, ou a quente, com a talhadeira ou goiva, batendo-se sobre estas ferramentas depois de se lhes colocar o corte sobre o metal assente na parte plana do cavalete. Quando se corta a quente é necessário ir molhando a talhadeira para evitar que ela perca a têmpera.

· Furar – de acordo com as dimensões do material e do furo pretendido, esta operação é feita a quente ou a frio. O metal é colocado no cavalete, de forma a que o eixo do furo que se pretende abrir coincida com o eixo do furo do cavalete, aplicando em cima um punção sobre o qual se dão pancadas precisas. O diâmetro do punção deve ser progressivo, iniciando-se com um redondo e delgado e sucessivamente alargando com outros mais grossos, até chegar ao que tenha o diâmetro desejado.

“A história simples de um homem simples”
Entre todos os ferreiros um se destaca pela sua tenacidade e espírito inventivo: Carolino Tapadejo. A sala de estar da sua habitação transformou-se, pela mão do seu filho de igual nome, numa sala de visitas em que todos entram sem reservas. Esta peculiar sala troca as porcelanas, as madeiras e as telas pelo metal que transforma este espaço num museu vivo da arte do ferro! Quem a visita não fica indiferente a uma tão rica produção que impressiona e deslumbra pela beleza e sensibilidade estética.
Com efeito, a família do senhor Carolino Tapadejo veio para Castelo de Vide em 1492 fugida de Espanha, perpetuando, desde então, a tradição de trabalhar o ferro desde o seu avô João Batista Tapadejo, que deixou o seu legado ao seu pai Carolino Tapadejo Calado, e este aos seus sucessores.
Seu pai casou-se aos 20 anos com Rosalina Coimbra Pina, entrando nesse mesmo ano para o exército, onde permaneceu durante 9 meses exercendo a função de serralheiro. No ano seguinte regressa à sua terra repleto de ideias e com vontade de evoluir no ofício.
Em 1947, morre a sua mulher, com o nascimento do seu primeiro filho de igual nome – Carolino Tapadejo. Em 1949 casa novamente e tem mais três filhos.
Assim, investe na sua formação, compra ferramentas adequadas, e depressa a sua oficina, mesmo em frente à Casa do Morgado, “se enche” de clientes e ganha prestigio. Ao longo de 50 anos o Sr. Carolino Tapadejo teve 101 aprendizes, o que apenas comprova a arte e a mestria com que executava as suas belíssimas obras de arte.
Em 1963 foi convidado a fazer esculturas para os EUA, e em 1974 termina a magnífica fruteira em ferro forjado, que será sempre o seu ex-líbris
Acaba por falecer a 27 de Agosto de 2001 vítima do seu segundo AVC.
Neste sentido, e com o intuito de revitalizar e inovar o velho ofício, o Sr. Tapadejo publicou uma série de textos sobre a sua família e a arte do ferro. De facto, teve o melhor mestre: o seu próprio pai. E embora também ele domine a arte de o trabalhar diz com humildade e convicção que o artista é o pai e não ele!

Arte Boleira

O agradável aroma que percorre aquela rua depressa nos atrai e impele a segui-lo, num misto entre a tentação e alguma preguiça a que as manhãs sempre obrigam. Encontramos, então, a simpática Casa de chá que o olfacto não permite ignorar. Ao entrar, como que enlevados por odores que à meninice lembram, contemplamos distintos géneros de bolos que não representam mais que parte integrante da memória e identidade do povo de Castelo de Vide.
E é, portanto, neste ambiente caseiro e acolhedor que descobrimos Belmira Branquinho, senhora com uma voz adocicada por 40 anos de mestria na arte boleira. A D. Belmira, natural de Castelo de Vide, vila que a viu nascer no ano de 1933, que a viu casar aos 23 anos, que a viu dar à luz a sua única filha, teve pouco tempo para estudar, a família era grande e por isso desde cedo que teve de cuidar dos seus irmãos.
Começou a sua vida profissional como modista, ofício que aprendeu durante 3 anos, abriu o seu próprio negócio mas chegou uma nova legislação a nível do comércio e a obrigatoriedade de ter de se colectar e pagar às finanças deixando-a, assim, sem outra escolha que não deixar o ofício, que tanto ama e que vai ainda praticando. Idealiza algumas peças, faz casacos, blusas e saias para a sua maior cliente, para ela própria. “ Em estando aqui até se esquece” diz a filha sobre a costura, à D. Belmira.
Casada com um sapateiro, a vida era difícil. Conheceram-se porque moravam perto (“éramos quase vizinhos!”). Nessa altura a D. Belmira “trabalhava na costura, era modista (haviam muitas modistas em Castelo de Vide) ”. Como moravam perto costumavam cruzar-se na rua e ele começou a gostar dela. Nessa altura D. Belmira namorava com um rapaz da sua idade, e o seu marido perguntava-lhe: “Então mas não deixa o gaiato?”, “e que, enfim que a obrigar-me a deixar o rapazinho. E eu deixei!”
Deixou o trabalho de modista e com o seu companheiro de vida abriram um pequeno restaurante. Tinham-se mudado há pouco para uma casa da sociedade em que não pagavam renda nem luz, tornando assim, as coisas mais fáceis. Ainda aí trabalhou na costura (com um pequeno numero de empregadas) acumulando a este ofício a confecção de petiscos no restaurante. Ia fazendo os petiscos e às vezes os bolinhos para o café de cafeteira….Um dia fazia mais umas coisinhas, outro dia outras, e assim começou a aumentar o negócio, dedicando-se somente à bolaria. Arte que a mãe lhe ensinara e que sempre fizera com gosto.
E na casa de chá que hoje é sua faz, as delícias dos seus clientes e amigos. As especialidades da casa são as famosas boleimas, os bolos de massa, o bolo finto, a enxovalhada e os biscoitos escaldados.
Ninguém se lembra de quando se começou a fazer estes bolos, mas também são poucos os que se perguntam…Em entrevista com o Sr. Carolino Tapadejo, tão bom conhecedor das questões dos judeus e cristãos novos, esclareceu-nos sobre a origem destes tão deliciosos bolos. “O pão ázimo transformou-se em bolo de massa que depois evoluiu para boleima. O bolo de massa, sem doce é só com farinha, água, sal e um bocado de azeite. Era massacrado com um garfo exactamente porque os judeus achavam que o pão tinha que ser massacrado, mas como eram judeus não poderiam chamar pão ázimo.
Mais tarde começaram a por na massa, por alguma festa, um bocado de açúcar e canela e até um bocado de maçã e é assim que nascem as boleimas. O biscoito escaldado são umas rosquinhas, uns “s”, cuja farinha chegava de outros lados, e como não era não controlada, escaldavam-na, com azeite a ferver para tentar purificar a farinha.”
A boleima é, sem dúvida, o bolo mais famoso da casa, pelo seu delicioso sabor e esplendorosa confecção. A boleima é feita a partir da massa do pão à qual se adiciona banha. Tende-se, então, a massa num tabuleiro e espalha-se o açúcar e a canela (pode ter ou não maçã) Pica-se a massa com um garfo, depois de estar estendida no tabuleiro, para tirar o ar e vai ao forno 20 a 30 minutos.
Para desempenhar a sua profissão necessita de uma cortadeira de colher de pau de alguidar para dissolver a massa trincha, para pintar bolos, tabuleiro, batedeira, amassadeira e raspador
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Cronograma


Apoios


Para a realização deste projecto foi, obviamente necessária a criação de uma rede de apoios que nos ajudassem na sua execução. Assim depois do levantamento das necessidades de todos os recursos que seriam essenciais para a realização do projecto “Arte Nossa” contactámos as seguintes Instituições.









Animação Sociocultural e o Desenvolvimento Local

Ao pensarmos em animação sociocultural, e em especial na animação comunitária, rapidamente, nos remete para desenvolvimento local e regional. Estes dois conceitos têm uma relação próxima e recíproca, pois enquanto a animação tem como objectivo o desenvolvimento local e regional esta é também um instrumento do mesmo.
A Animação Sociocultural é promotora de desenvolvimento, sobretudo no plano da intervenção comunitária; é um agente, um método, um instrumento de potenciação dos recursos endógenos actuando a vários níveis, social, cultural e educativo. Quando nos referimos à animação sociocultural referimo-nos a um processo, não podendo considerá-la como um conjunto de actividades isoladas, mas antes como uma forma concertada, planeada, justificada e claro, que se prolonga no tempo. De facto, a animação sociocultural trabalha com pessoas fazendo da sua intervenção, primeiramente uma aproximação entre o animador e a comunidade, que se traduzirá na cada vez mais estreita relação das pessoas enquanto grupo.
A animação sociocultural deve ser entendida enquanto um projecto, um programa com acções, com objectivos, com uma metodologia pensada e preparada, mas deve saber ajustar-se e estar de acordo com a realidade. A animação sociocultural nunca pode demitir-se da sua função social ela deve ser um motor que gera que faz agir… deve sempre haver espaço e capacitar as pessoas para que tenham iniciativas e que as concretizem. Esta deve promover sempre actividades que envolva agentes e destinatários numa perspectiva conjunta de envolvimento.
Assim, o animador deve ser um mediador social atento e critico capaz de intervir para mudar sabendo integrara-se, sempre a realidade de um perspectiva critica e sendo profundo conhecedor do que o envolve.
Quando falamos em desenvolvimento local e regional e o papel que a animação aqui desempenha é fundamental falarmos no binómio território e cultura que caracteriza o objecto da animação que se traduz nas suas formas de intervenção. De facto, é essencial que se deixe de pensar numa hegemonia cultural quando ela na realidade não existe. (Bento Avelino, 2003).
Cada vez mais, torna-se evidente a diversidade cultural quer de país para país, quer dentro dos territórios nacionais assim, é crucial que se preserve as especificidades locais e regionais
De facto, a animação tem aqui um papel fundamental na preservação por uma lado das culturas locais abrindo-as para o exterior, dando-se a conhecer e conhecendo-se, pois a identidade é sempre construída na relação com o outro, e possibilitando assim o enriquecimento da comunidade.
Nesta perspectiva a animação, pelas suas características, tem um papel preponderante no desenvolvimento local e regional no que concerne à sua capacidade motivadora e agregadora.
Um desenvolvimento local e regional sustentável passa invariavelmente por um aproveitamento responsável dos recursos endógenos que é já uma característica da animação e da sua metodologia.
É neste sentido que o artesanato se destaca como um dos elementos a potenciar nesta demanda conjunta entre animação e o desenvolvimento local e regional (causa efeito da animação). Assim, a promoção, a valorização e a revitalização das artes e ofícios tradicionais enquanto objecto de estudo da animação podem ser um dos caminho as a seguir para a potenciação do desenvolvimento local e regional. Neste sentido, a animação deve criar condições para a sua promoção, inovação, na formalização das novas políticas envolvendo a comunidade e empenhando-a na preservação do que constitui a sua herança cultura. Exige-se que o artesanato se valorize a ele próprio, que se formem novos artesãos capazes de adquirir conhecimentos para transmitir aquilo que é típico na sua região.

A Arte Popular

Inicialmente, o trabalho desenvolvido pela antropologia portuguesa restringia-se ao levantamento das tradições populares, não atribuindo os antropólogos, nas décadas de 1870 e 1880, real importância à “arte popular”, porquanto apenas se interessavam pela recolha de contos, romances, provérbios e superstições.
Assim, foi Adolfo Coelho nos seus Programas Etnológicos quem alertou para a necessidade de estudar a dimensão “material” da tradição. Contudo, foi na viragem do século, com Rocha Peixoto que esta situação começa a inverter-se. Se até então os antropólogos apenas se dedicavam às questões inerentes à literatura e às tradições populares, Rocha Peixoto consagra vários textos, relativos ao tema da “arte popular”. Todavia, ao mesmo tempo que as suas obras despoletam um período de investigação etnográfica, nelas predominam “ideias decadentistas” e exaustivas caracterizações negativas sobre a “arte popular”. Tudo isto culmina novamente, como seria de prever, num abandono do estudo da “arte popular”, que apenas é resgatado durante a I República, mediante uma perspectiva mais entusiasta da cultura popular, enquanto forma potenciadora de legitimação nacional.
Contudo, foi, de facto, no âmbito da história de arte e do design que a “arte popular” se afirma como o universo que engloba as “coisas populares”. Este processo envolveu alguns intelectuais como Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida e D. José Pessanha, etc. No entanto, foi Joaquim Vasconcelos que incansavelmente se empenhou nesta causa, numa busca pela renovação da arte em Portugal, destacando-se como uma figura central no panorama da arte portuguesa, no decorrer da segunda metade do séc. XIX e das primeiras décadas do séc. XX. Deste modo, defendeu um programa de nacionalização da arte portuguesa que valorizava e pretendia retomar, exactamente, aquilo que era genuinamente português, num ímpeto de rejeição relativamente ao que vinha de fora; com o intuito, por sua vez, de adequar o que é nacional aos desafios propostos pela contemporaneidade.
O movimento acima citado defendia, portanto, a aliança que deveria existir entre o artesão tradicional e o designer moderno; a preferência pela linguagem já enraizada na tradição oral, regional ou nacional, em oposição à estandardização internacionalista.
De facto, e ainda segundo Vasconcelos, seria a partir das tradições e experiências populares que se conseguiria constituir uma tradição industrial e artística capaz de combater a desnacionalização do país; tendo por base, por um lado, o renascimento das “indústrias caseiras”, e por outro, a capacidade da nova indústria e os seus respectivos trabalhos se apoiarem em lições presentes na própria tradição.
A produção etnográfica de Vasconcelos desenvolve-se entre 1913, data em que edita o seu primeiro artigo na revista A Águia (retomado mais tarde por Correia), e o início de 1920, data a partir da qual as suas novas responsabilidades enquanto professor da Universidade de Coimbra o afastam das pesquisas etnográficas. Escreveu, ainda, o artigo sobre “ O Carro Rural” publicado na Vida e Arte do Povo Português, que foi, indiscutivelmente, uma das mais importantes expressões da etnografia do Estado Novo. Esta foi a última obra publicada pelo autor em vida.
Efectivamente, o estudo que Vergílio Correia efectua para A Águia advém de uma caracterização dos principais meios sociais onde a “arte popular” seria produzida. Assim, em primeiro lugar encontra-se a casa de habitação, onde é possível encontrar a “arte caseira” (essencialmente feminina, destacando-se as rendas, os tapetes, os trabalhos com tecidos, etc.), bem como a “ arte de oficina caseira”, também na habitação, mas em compartimentos adequados (essencialmente praticado por homens, destacando-se a olaria, ourivesaria, etc).
Por seu turno, o segundo meio de produção da “arte popular” seriam os campos, onde se desenvolvia a arte pastoril o todos os trabalhos produzidos por pastores e ganhões, em consequência dos “tempos mortos” que caracterizavam estas actividades.
Por último, o terceiro meio de produção da “arte popular” seria as prisões, os hospitais, os manicómios (também em virtude desses mesmos “tempos mortos”). Desta forma, nos períodos em que se encontravam em convalescença, ou nos momentos de sossego, os doentes abriam desenhos e cortavam bonecos de madeira à navalha.
Neste sentido, Correia procura distinguir as manifestações materiais e imateriais da arte popular. Assim, as primeiras são divididas em grandes grupos, como sejam: a casa (aspecto exterior e decoração), a vida social (vestuário, divertimentos, etc.), o aproveitamento dos elementos naturais (agricultura, pesca, moinhos), o aproveitamento dos animais (pastorícia, transporte animal), as indústrias (caseiras e oficina caseira) e a religião (crenças, superstições).
Com efeito, depreende-se, então, que o campo da “arte popular” engloba não somente os produtos, como ainda a arquitectura, as alfaias e tecnologias agrícolas e sobretudo a literatura, a música e as tradições populares.
No entanto, alguns intelectuais desenvolvem estudos nos quais questionam o gosto etnográfico do Estado Novo. Entre estes encontrava-se Ernesto de Sousa, uma personagem ecléctica que marcou a cena artística portuguesa entre as décadas de 1940 e 1980.
De facto, Sousa manifestou um grande interesse pela “arte popular”, nomeadamente no que concerne à arte primitiva e às “coisas populares” (1944). Foi, contudo, na década de 1960 que Ernesto Sousa se torna coleccionador, divulgador, e teórico da arte popular portuguesa. Enquanto coleccionador e divulgador está ligado à descoberta do escultor popular Franklin; enquanto teórico foi o autor de um conjunto de textos, dos quais se destaca o livro Para o Estudo da Escultura Portuguesa, classificando a “arte popular” como “arte ingénua”. Assim, implanta uma nova sensibilidade na forma de caracterizar e qualificar a arte popular, que se manifesta no tipo de objectos que a caracterizam. Em substituição da produção artesanal incentivada pelo Estado Novo, a representação do popular passa a assentar em formas imprevistas e plásticas não padronizadas, que resulta, por sua vez, de uma leitura modernista da arte popular, caracterizada por critérios estéticos.
De facto, para Sousa a “arte ingénua” assume-se como uma prática estética afluente de um sistema de valores caracterizado segundo o primitivismo modernista. Desta forma, defendia que era exactamente por ser primitiva que a “arte ingénua” continha em si, um conjunto de valores que a tornava bastante promissora, não só por ser um elemento essencial de assunção da nacionalidade, como ainda, por estar capacitada para projectar o país no futuro.
Neste sentido, a “arte ingénua” de Ernesto Sousa resulta do trabalho individual dos artistas, ao invés de ser o produto do povo enquanto artista colectivo. É neste mesmo seguimento que Sousa distingue “arte ingénua” de artesanato, uma vez que o “artista ingénuo” quando cria está a expressar o seu mundo, enquanto o artesão se limita a produzir objectos decorativos e usuais, de forma repetitiva e imitativa.

Pedido de Apoio à escola Superior de Educação

Grupo de Projecto 3º ano do Curso de Animação Sociocultural

Portalegre, 26 de Maio de 2008
Sr. Dr. Albano Varela e Silva, Presidente da Escola Superior de Educação de Portalegre

Vimos por este meio, solicitar a Vossa Exª, apoio a nível de impressões necessárias para a divulgação do Projecto “Arte Nossa”, a desenvolver em Castelo de Vide, nos dias 30 e 31 do presente mês.
Neste sentido, solicitávamos 30 impressões a cores e 70 a preto e branco. Integrado no nosso projecto irá realizar-se uma palestra subordinada ao tema “Ofícios do passado, autenticidade no futuro”, motivo pelo qual necessitaríamos de um centro de mesa, para o dia 30 do corrente mês.
Sem outro assunto de momento, e agradecendo deste já a colaboração da escola, com os melhores cumprimentos.

Altino Barradas
Liliana Ferreira
Márcia Lima
Raquel Rodrigues
Tiago Trindade

20 de Maio de 2008

O grupo deslocou-se a Castelo de Vide para dar continuidade às entrevista dos respectivos mestres. O grupo dividiu-se em subgrupos, de forma a rentabilizar melhor o tempo. Entrevistámos a D. Esperança, "Mestre em Trapologia", consultámos informação na Biblioteca Municipal de Castelo de Vide, relacionada com os Oficios que estamos a abordar, reúnimo-nos com a OCRE , a fim de explicitar-mos a nossa temática e solicitar-mos mais alguma informação. Entrámos ainda em contacto, via telefone, com o Sr. Vice Presidente António Pita e prócurámos o Sr. Francisco Viegas, "Mestre em Arte Pastoril", afim de realizar-mos uma entrevista, contudo foi impossivel, por não se encontrar presente em Catelo de Vide.
No decorrer desta visita, aproveitámos para realizar algumas filmagens e fotografias à vila.

19 Maio de 2008

O grupo reuniu-se com o objectivo de clarificar algumas estratégias, a ter em conta no projecto. Organizámos a planificação para o dia seguinte, delineámos tarefas e definimos prioridades, a fim de gerir-mos da melhor forma o trabalho.

Objectivos

  • Dar a conhecer os ofícios tradicionais da região de Castelo de Vide a fim de promover a autenticidade regional e local.
  • Valorizar o património etnográfico e imaterial.
  • Promover o debate local sobre a importância destes ofícios e a sua aplicação em termos futuros.
  • Envolver a comunidade local.
  • Promover a participação dos idosos na mostra dos seus ofícios permitindo um contacto intergeracional.

Descrição do Projecto


O projecto “Arte Nosa” irá decorrer na tarde de 30 de Maio e na manhã de 31 do respectivo mês, no presente ano.
Assim, durante a manhã haverá uma pequena palestra intitulada “Ofícios do passado, autenticidade no futuro” que terá dois oradores, devendo um deles estar ligado aos antigos ofícios de Castelo de Vide, com o intuito de debater-se a importância dos mesmos enquanto forte potenciador de desenvolvimento local e regional, esclarecendo-se portanto a necessidade imperiosa da sua valorização, porquanto apelam à genuinidade e autenticidade da região.
Esta palestra tem, entao, como objectivo consciencializar a população quer sobre a importância que estes ofícios assumiram no passado, quer enquanto alavanca no que concerne a futura revitalização destas questões, tal como do “saber-fazer", de grande utilidade prática para a população.
Por sua vez, durante a manha do dia 31, estabelecer-se-à um circuito pela vila que comporta uma mostra viva de alguns dos ofícios característicos da mesma (barbeiro, bordadeira, arte campestre, ferro forjado, boleira e tipógrafo), a fim de estabelecer um contacto directo entre a realidade apresentada que já não é a realidade actual.
O circuito irá decorrer da seguinte forma:
Os visitantes devem dirigir-se, primeiramente ao posto de turismo na praça D. PedroV onde serão informados do percurso e receberão informação geral sobre o projecto e um mapa que terá assinalado o local especifico onde estraão os mestres a trabalhar. De seguida, as pessoas dirigem-se livremente a outros locais que estão assinalados no mapa. Em cada local estará um mestre de cada ofício que o demonstrará e explicará a sua arte como também um folheto com informação quer sobre o mestr quer sobre o seu ofico.
No final da intervenção do dia 31 haverá um jantar de convivio entre os participantes envolvidos no projecto. Deste modo o objectivo deste convivio é promover a interacção entre todos os intervenientes no projecto, especialmente os mestres, os organizadores, os parceiros e amigos. Este terá inicio às 19h e culminará com a presença de todos na Festa de Nossa Senhora da Alegria.

Metodologia

O projecto “Arte Nossa” pretende ser um projecto comprometido com a realidade de Castelo de Vide. De facto, enquanto futuros animadores sócio culturais temos o dever de construir modelos de projecto que se empenhem com afinco na realidade que nos envolve e que se traduzam de alguma forma na mudança social através da intervenção concreta, reflectida e planeada na realidade.
Neste sentido, o projecto que estamos a desenvolver tem como ponto fundamental na sua metodologia a construção de um processo, de um caminho metodológico que foi gradualmente sendo aprofundado e em que cada etapa foi crucial no desenrolar da próxima.
Este projecto tem desde o seu início, como condição e objectivo, ser um projecto de cariz comunitário, no sentido em que deverá envolver a comunidade a partir da instituição com a qual trabalhamos como parceira. Com efeito, a escolha da instituição não foi ao acaso. Escolhemos a OCRE como parceira pois já tínhamos contacto com o trabalho desta instituição e considerámo-lo bastante pertinente e interessante.
Desta forma chegamos à primeira etapa do nosso projecto: a análise da realidade. Assim, primeiramente fizemos um levantamento sobre a instituição, a fim de percebermos quais os seus âmbitos de acção, os recursos que poderiam disponibilizar, os seus estatutos e objectivos para que o nosso projecto pudesse ser integrado com a instituição parceira. Contudo, o âmbito de trabalho da OCRE é bastante vasto abrangendo todo o alto Alentejo, tendo sido por isso necessário definir de imediato um campo de acção que seria a comunidade de Castelo de Vide.
Como já foi referido, este projecto foi sempre direccionado para a comunidade e por isso sentimos de imediato necessidade de conhecer a realidade de Castelo de Vide para que a nossa intervenção pudesse ser pertinente e que contribuísse para a mudança social.
Assim, foi para nós essencial um esquema apresentado pelo Dr. Avelino Bento numa das suas aulas que nos fala precisamente dos momentos de analise da realidade.






Tal como podemos ver neste esquema o primeiro momento de análise da realidade passa pela descrição da mesma. Foi neste sentido que começámos o nosso trabalho fazendo uma pesquisa bibliográfica sobre Castelo de Vide, a sua história, um levantamento das instituições existentes, e o conhecimento da sua população, etc.
No segundo momento começamos por falar com as pessoas de Castelo de Vide que nos foram falando da sua vida e da vila; tivemos também uma reunião com a Ocre no sentido de apurar a sua percepção da realidade, na medida em que estes desenvolvem trabalho diariamente nesta vila; foi também neste momento em que fomos falar com o vice-presidente da Câmara Municipal, a fim de perceber quais as necessidades da população e a sua visão da realidade local.
Seguidamente, depois de analisarmos os textos, reflectimos de forma aprofundada e em grupo sobre que modelo de intervenção poderia ser o nosso face às necessidades e características da comunidade.
Basta conhecermos um pouco de Castelo de Vide, que facilmente nos apercebemos que esta vila está intimamente ligada com as questões do turismo, e que o seu património cultural é, para além de vasto, bastante rico. Contudo, a sua população tem vindo a envelhecer e a ficar cada vez mais reduzida.
Neste contexto, chegámos então ao momento da alternativa em nos concentramos em três questões centrais; a população idosa, o património cultural, constituinte da memória colectiva e da autenticidade e o desenvolvimento local.
Assim, chegámos à formulação dos nossos objectivos para o projecto. De facto, neta altura o âmbito de intervenção estava definido e completamente esclarecido.
Desta forma, voltámos a fazer trabalho de pesquisa sobre a vila e a sua história e etnografia, e foi neste sentido que nos deparamos com a questão dos ofícios que considerámos essencial que decidimos trabalhar.
A partir daqui, as visitas a Castelo de Vide intensificaram -se com o propósito de conhecermos as pessoas que estivessem ligadas a estas formas de vida. De facto, são muitos os ofícios que estão a desaparecer ou os que já se perderam no tempo, sendo, contudo, a sua importância fundamental para a vila.
Neste contexto, fomos aperfeiçoando a nossa ideia tendo vindo a construi-la gradualmente sempre com a colaboração da Ocre e também da Câmara Municipal de Castelo de Vide.
Deste modo, definimos que o nome do projecto seria “Arte Nossa” por os ofícios serem uma arte e ao mesmo tempo partes estruturantes da memória colectiva e da autenticidade local.
Efectivamente, o projecto passará pela criação de um circuito, em que os artesãos estarão a mostrar os seus ofícios nos locais mais fiéis possível. Por sua vez, os visitantes estarão em contacto directo quer com a arte, quer com o mestre.
Contudo, consideramos que o circuito deveria ser complementado por uma parte mais teórica, que passa pela construção de pequenos folhetos para que as pessoas tenham acesso à informação quer sobre o ofício, quer sobre a pessoa que o desenvolve, uma vez que são os visitantes através do mapa que descobrem os mestres.
Neste seguimento, procedemos a execução de entrevistas semi-directivas. “A entrevista é um método de recolha de informações que consiste em conversas orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas seleccionadas cuidadosamente, cujo grau de pertinência, validade e fiabilidade é analisado na perspectiva dos objectivos da recolha de informações” (Ketele, in SIMÕES, Alcino).
[1]
Neste contexto, consideramos pertinente para uma melhor optimização deste estudo a aplicação da entrevista semi-directiva. Aqui, o inquiridor determina a priori os temas que pretende ver desenvolvidos pelos inquiridos, devendo estes segui-los de forma correcta e coerente. As questões serão abertas, dando ao inquirido autonomia e liberdade de desenvolve-las consoante a sua vontade. Optámos por esta metodologia porque as pessoas que vamos abordar são já idosas e por isso torna-se mais fácil este tipo de abordagem. Deste modo, o nosso guião de entrevista foi o seguinte:
1. Nome, idade, local onde nasceu,
2. Qual o ofício que realiza,
3. Explicação do mesmo,
4. Quando aprendeu,
5. Quem o ensinou.
Estas entrevistas foram gravadas em áudio e acompanhadas de filmagens para que das imagens pudéssemos fazer um pequeno filme. Tirámos também fotografias para que possamos depois complementar os folhetos com imagens.
De facto, consideramos que só a mostra dos ofícios não chegaria par que os nossos objectivos fossem atingidos, e como pretendemos contribuir para a mudança social achámos pertinente a execução de uma pequena palestra intitulada “Os Ofícios do passado a autenticidade no futuro” de forma a contextualizar teoricamente o nosso projecto.
De facto, este projecto vem no seguimento de uma das disciplinas do curso de animação sociocultural e por isso não pode nunca ser esquecido o seu cariz científico.
O projecto “Arte Nossa” é, de facto, um projecto que se quer comprometer com a realidade, pois nasce de uma profunda análise da realidade, pretende ser criativo mas não impossível e pretende ser um instrumento de mudança social. Neste projecto tentámos sempre promover a participação dos agentes locais promovendo o envolvimento das pessoas que são da terra e melhor do que ninguém a conhecem e podem mudá-la, mudando. A participação que este projecto promove dirige-se em dois sentidos: o primeiro como já foi referido através da intervenção directa no projecto quer dos mestres na mostra dos ofícios, quer na participação de um mestre na palestra. Mas também enquanto participantes que intervêm como actores que possibilitam e gratificam todo o nosso trabalho, assim como o trabalhos dos mestres e todos os envolvidos no projecto.
Com efeito, o projecto “Arte Nossa“ compromete-se em valorizar os recursos humanos da comunidade e das instituições que de forma directa ou indirecta colaboram connosco.







[1] SIMÕES, Alcino, Como realizar uma entrevista, [online] http://www.prof2000.pt/users/folhalcino/ideias/comunica/entrevista.htm, 22 de Maio de 2008