O Projecto " Arte Nossa" nasce pela necessidade de atribuir um novo ênfase às questões dos ofícios tradicionais de Castelo de Vide, uma vez que enfrentam o risco de desaparecer por completo, perdendo-se, assim, parte da memória colectiva de Castelo de Vide e, consequentemente, da sua autenticidade.É neste sentido que pretendemos não somente apresentar alguns destes ofícios, como também debatê-los num contexto teórico e numa perspectiva futura.Assim, o projecto incidirá em dois aspectos distintos mas que se complementam: por um lado a mostra de ofícios que será apresentada em pontos específicos da vila que o visitante percorrerá; por outro lado, um debate sobre a importância dos ofícios enquanto manifestações da identidade e autenticidade de Castelo de Vide, bem como promotores de desenvolvimento local.


Enquadramento legal

Abraçada pelas serras, envolta em cores e cheiros de uma paisagem deslumbrante encontramos a vila de Castelo de Vide.
As suas ruas de calçada portuguesa são testemunhos históricos de muitas batalhas travadas, de muitos pés judeus, portugueses e espanhóis que por ali pisaram e fizeram história.
Mas se os olhos se perderem nas fachadas, então encontrarão as pedras que foram lares, que foram aconchego, umas de famílias ricas, nobres ou burguesas, e outras de ricas famílias que eram gente de trabalho que travavam a dualidade daquela vila entre um pouco de urbanidade num misto de ruralidade a que a serra obriga.
Esta vila envolta em encantos foi desde sempre tocada pelas características da interioridade que a geografia acentua: as desigualdades entre a verdadeira Sintra no litoral e a Sintra do Alentejo. Tendo visto muitos dos filhos da terra a partir a vila é condescendente com o envelhecimento da sua população, com o isolamento, com as dificuldades económicas e com a desertificação que infelizmente caracterizam o Alto Alentejo.
O tempo foi passando pela vila e tal como levou os seus filhos foi levando também muitas das actividades económicas tão características e específicas de uma tão rica vila como esta, fazendo dos que vem de fora a actividade económica por excelência.
O artesanato tem sido uma das apostas na demanda pelo desenvolvimento e a aposta no sector terciário um resultado. Contudo, Castelo de Vide foi construindo a sua identidade ao longo dos séculos, não só pelo artesanato mas por todos os ofícios tão específicos desta zona, que mantinham as casas, alimentavam os moradores, cuidavam dos seus rebanhos, tratavam da sua barba, decoravam as suas ruas e imprimiam os seus jornais.
A questão da revitalização dos ofícios tradicionais é cada vez mais uma questão pertinente e que urge ser tratada. A educação tem vindo ao longo do tempo descurando as questões da profissionalização num sentido pratico e sobrevalorizando a educação formal, contudo, vai-se assim perdendo a relação quase que medieval entre aprendizes e mestres, entre o criador e a peça criada. A massificação do material descartável massificou também as questões da educação para a profissão desvalorizando este tipo de ofícios. Se por um lado a educação deveria promover a igualdade respeitando as diferenças, é certo que o fim destes ofícios é sintomático (FERNANDES e PIRES).
As artes e os ofícios não têm sido alvo de grandes atenções, quer por parte da comunidade em geral, quer por parte do poder político transformando-se muitas vezes em meras actividades de tempos livres. Contudo, o "saber-fazer" é uma arte, um bem cultural imaterial que deve ser preservado e valorizado, tal com está previsto na Lei de Bases do Património Cultural, no artigo 91º, alínea 1 e 2:
“1 - Para efeitos da presente lei, integram o património cultural as realidades que, tendo ou não suporte em coisas móveis ou imóveis, representem testemunhos etnográficos ou antropológicos com valor de civilização ou de cultura com significado para a identidade e memória colectivas;
2 - Especial protecção devem merecer as expressões orais de transmissão cultural e os modos tradicionais de construção e de fabrico e os modos de preparar os alimentos.”
É neste sentido que urge proteger este património cultural tão importante e rico, não só por si mas também, como elemento estruturante da identidade de um povo, característica da sua autenticidade.
Assim, a Animação Sóciocultural tem aqui um papel fundamental enquanto promotora da valorização deste património devendo tornar-se um instrumento activo de conservação e sensibilização para estas questões. Segundo o artigo 70º na alínea f) da Lei de Bases do Património Cultural uma das componentes do regime geral de valorização dos bens culturais é a divulgação, sensibilização e animação e alguns dos instrumentos de valorização do mesmo são os programas de apoio às formas de utilização originária, tradicional ou natural dos bens e os programas e projectos de divulgação, sensibilização e animação (alínea c) e g) do artigo 71º).
É neste contexto que o projecto “Arte Nossa” tem como objectivo principal a valorização deste património, muitas vezes descurado, e que se pode transformar ainda, num motor de desenvolvimento local e regional quer pela actividade em si, quer pela sua especificidade.

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