O Projecto " Arte Nossa" nasce pela necessidade de atribuir um novo ênfase às questões dos ofícios tradicionais de Castelo de Vide, uma vez que enfrentam o risco de desaparecer por completo, perdendo-se, assim, parte da memória colectiva de Castelo de Vide e, consequentemente, da sua autenticidade.É neste sentido que pretendemos não somente apresentar alguns destes ofícios, como também debatê-los num contexto teórico e numa perspectiva futura.Assim, o projecto incidirá em dois aspectos distintos mas que se complementam: por um lado a mostra de ofícios que será apresentada em pontos específicos da vila que o visitante percorrerá; por outro lado, um debate sobre a importância dos ofícios enquanto manifestações da identidade e autenticidade de Castelo de Vide, bem como promotores de desenvolvimento local.


Metodologia

O projecto “Arte Nossa” pretende ser um projecto comprometido com a realidade de Castelo de Vide. De facto, enquanto futuros animadores sócio culturais temos o dever de construir modelos de projecto que se empenhem com afinco na realidade que nos envolve e que se traduzam de alguma forma na mudança social através da intervenção concreta, reflectida e planeada na realidade.
Neste sentido, o projecto que estamos a desenvolver tem como ponto fundamental na sua metodologia a construção de um processo, de um caminho metodológico que foi gradualmente sendo aprofundado e em que cada etapa foi crucial no desenrolar da próxima.
Este projecto tem desde o seu início, como condição e objectivo, ser um projecto de cariz comunitário, no sentido em que deverá envolver a comunidade a partir da instituição com a qual trabalhamos como parceira. Com efeito, a escolha da instituição não foi ao acaso. Escolhemos a OCRE como parceira pois já tínhamos contacto com o trabalho desta instituição e considerámo-lo bastante pertinente e interessante.
Desta forma chegamos à primeira etapa do nosso projecto: a análise da realidade. Assim, primeiramente fizemos um levantamento sobre a instituição, a fim de percebermos quais os seus âmbitos de acção, os recursos que poderiam disponibilizar, os seus estatutos e objectivos para que o nosso projecto pudesse ser integrado com a instituição parceira. Contudo, o âmbito de trabalho da OCRE é bastante vasto abrangendo todo o alto Alentejo, tendo sido por isso necessário definir de imediato um campo de acção que seria a comunidade de Castelo de Vide.
Como já foi referido, este projecto foi sempre direccionado para a comunidade e por isso sentimos de imediato necessidade de conhecer a realidade de Castelo de Vide para que a nossa intervenção pudesse ser pertinente e que contribuísse para a mudança social.
Assim, foi para nós essencial um esquema apresentado pelo Dr. Avelino Bento numa das suas aulas que nos fala precisamente dos momentos de analise da realidade.






Tal como podemos ver neste esquema o primeiro momento de análise da realidade passa pela descrição da mesma. Foi neste sentido que começámos o nosso trabalho fazendo uma pesquisa bibliográfica sobre Castelo de Vide, a sua história, um levantamento das instituições existentes, e o conhecimento da sua população, etc.
No segundo momento começamos por falar com as pessoas de Castelo de Vide que nos foram falando da sua vida e da vila; tivemos também uma reunião com a Ocre no sentido de apurar a sua percepção da realidade, na medida em que estes desenvolvem trabalho diariamente nesta vila; foi também neste momento em que fomos falar com o vice-presidente da Câmara Municipal, a fim de perceber quais as necessidades da população e a sua visão da realidade local.
Seguidamente, depois de analisarmos os textos, reflectimos de forma aprofundada e em grupo sobre que modelo de intervenção poderia ser o nosso face às necessidades e características da comunidade.
Basta conhecermos um pouco de Castelo de Vide, que facilmente nos apercebemos que esta vila está intimamente ligada com as questões do turismo, e que o seu património cultural é, para além de vasto, bastante rico. Contudo, a sua população tem vindo a envelhecer e a ficar cada vez mais reduzida.
Neste contexto, chegámos então ao momento da alternativa em nos concentramos em três questões centrais; a população idosa, o património cultural, constituinte da memória colectiva e da autenticidade e o desenvolvimento local.
Assim, chegámos à formulação dos nossos objectivos para o projecto. De facto, neta altura o âmbito de intervenção estava definido e completamente esclarecido.
Desta forma, voltámos a fazer trabalho de pesquisa sobre a vila e a sua história e etnografia, e foi neste sentido que nos deparamos com a questão dos ofícios que considerámos essencial que decidimos trabalhar.
A partir daqui, as visitas a Castelo de Vide intensificaram -se com o propósito de conhecermos as pessoas que estivessem ligadas a estas formas de vida. De facto, são muitos os ofícios que estão a desaparecer ou os que já se perderam no tempo, sendo, contudo, a sua importância fundamental para a vila.
Neste contexto, fomos aperfeiçoando a nossa ideia tendo vindo a construi-la gradualmente sempre com a colaboração da Ocre e também da Câmara Municipal de Castelo de Vide.
Deste modo, definimos que o nome do projecto seria “Arte Nossa” por os ofícios serem uma arte e ao mesmo tempo partes estruturantes da memória colectiva e da autenticidade local.
Efectivamente, o projecto passará pela criação de um circuito, em que os artesãos estarão a mostrar os seus ofícios nos locais mais fiéis possível. Por sua vez, os visitantes estarão em contacto directo quer com a arte, quer com o mestre.
Contudo, consideramos que o circuito deveria ser complementado por uma parte mais teórica, que passa pela construção de pequenos folhetos para que as pessoas tenham acesso à informação quer sobre o ofício, quer sobre a pessoa que o desenvolve, uma vez que são os visitantes através do mapa que descobrem os mestres.
Neste seguimento, procedemos a execução de entrevistas semi-directivas. “A entrevista é um método de recolha de informações que consiste em conversas orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas seleccionadas cuidadosamente, cujo grau de pertinência, validade e fiabilidade é analisado na perspectiva dos objectivos da recolha de informações” (Ketele, in SIMÕES, Alcino).
[1]
Neste contexto, consideramos pertinente para uma melhor optimização deste estudo a aplicação da entrevista semi-directiva. Aqui, o inquiridor determina a priori os temas que pretende ver desenvolvidos pelos inquiridos, devendo estes segui-los de forma correcta e coerente. As questões serão abertas, dando ao inquirido autonomia e liberdade de desenvolve-las consoante a sua vontade. Optámos por esta metodologia porque as pessoas que vamos abordar são já idosas e por isso torna-se mais fácil este tipo de abordagem. Deste modo, o nosso guião de entrevista foi o seguinte:
1. Nome, idade, local onde nasceu,
2. Qual o ofício que realiza,
3. Explicação do mesmo,
4. Quando aprendeu,
5. Quem o ensinou.
Estas entrevistas foram gravadas em áudio e acompanhadas de filmagens para que das imagens pudéssemos fazer um pequeno filme. Tirámos também fotografias para que possamos depois complementar os folhetos com imagens.
De facto, consideramos que só a mostra dos ofícios não chegaria par que os nossos objectivos fossem atingidos, e como pretendemos contribuir para a mudança social achámos pertinente a execução de uma pequena palestra intitulada “Os Ofícios do passado a autenticidade no futuro” de forma a contextualizar teoricamente o nosso projecto.
De facto, este projecto vem no seguimento de uma das disciplinas do curso de animação sociocultural e por isso não pode nunca ser esquecido o seu cariz científico.
O projecto “Arte Nossa” é, de facto, um projecto que se quer comprometer com a realidade, pois nasce de uma profunda análise da realidade, pretende ser criativo mas não impossível e pretende ser um instrumento de mudança social. Neste projecto tentámos sempre promover a participação dos agentes locais promovendo o envolvimento das pessoas que são da terra e melhor do que ninguém a conhecem e podem mudá-la, mudando. A participação que este projecto promove dirige-se em dois sentidos: o primeiro como já foi referido através da intervenção directa no projecto quer dos mestres na mostra dos ofícios, quer na participação de um mestre na palestra. Mas também enquanto participantes que intervêm como actores que possibilitam e gratificam todo o nosso trabalho, assim como o trabalhos dos mestres e todos os envolvidos no projecto.
Com efeito, o projecto “Arte Nossa“ compromete-se em valorizar os recursos humanos da comunidade e das instituições que de forma directa ou indirecta colaboram connosco.







[1] SIMÕES, Alcino, Como realizar uma entrevista, [online] http://www.prof2000.pt/users/folhalcino/ideias/comunica/entrevista.htm, 22 de Maio de 2008

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