Perto dos 82 anos, que irá celebrar no dia 3 de Agosto, D. Esperança Coelho mantém-se ainda muito activa e cheia de alegria. É no número 26 da Rua direita do Castelo que esta senhora guarda a chave de muitos tesouros, a igreja de Nossa Senhora da Alegria e os seus tão bonitos e perfeitos trabalhos em trapologia.
D. Esperança não nasceu em Castelo de Vide é natural de Lisboa mas foi cedo e por imposições da vida que o seu caminho a levou a esta vila onde casou, enviuvou e agora vive sozinha.
Antes de se dedicar ao ofício da trapologia era dona de casa, trabalhava no campo e costurava, sobretudo, fatos para homem. Começou por fazer pegas e almofadas seguindo-se as colchas para camas, um trabalho mais difícil e moroso mas sempre com a mesma perfeição e perícia que caracterizam a arte. O seu volume de trabalho poderia ter crescido se Belmira tivesse ido vender para Lisboa, como houvera sido convidada em tempos. De facto, esta senhora foi sempre uma autodidacta quando lhe perguntamos quem a ensinou a coser ela de imediato responde “amanhada, nunca ninguém me ensinou.”.
D. Esperança vive, hoje, rodeada dos seus trapos que corta e coze milimetricamente, construindo as mais variadas formas, com as mais diversas utilidades. Dois dos trabalhos que executa com mais frequência são os sacos para o pão e os aventais, que demoram cerca de dois dias a fazer. Orgulha-se de, devido a esta arte tão nobre da qual se fala tão pouco, tenha ido já à televisão, tendo mesmo sido entrevistada por alguns jornais. A técnica é simples, corta-se os bocados de tecido (ou quadrados ou tiras) e ao primeiro que ficará no meio vão-se juntando outros, aos poucos outros e outros, de muitas cores, criando uma miscelânea colorida ao gosto de quem as coseu.
Que valeria cada pedaço de tecido isolado? Agora juntos são uma colcha, uma pega ou um saco… antigamente servia-se com os retalhos de Lisboa mas, como diz, desde o ano de 2000 que cada vez vende menos e por isso já lhe servem os retalhos de Castelo de Vide. Contudo, é com o mesmo amor e dedicação que coloca em cada ponto a linha que vai perpetuando este ofício tão singelo.
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