O Projecto " Arte Nossa" nasce pela necessidade de atribuir um novo ênfase às questões dos ofícios tradicionais de Castelo de Vide, uma vez que enfrentam o risco de desaparecer por completo, perdendo-se, assim, parte da memória colectiva de Castelo de Vide e, consequentemente, da sua autenticidade.É neste sentido que pretendemos não somente apresentar alguns destes ofícios, como também debatê-los num contexto teórico e numa perspectiva futura.Assim, o projecto incidirá em dois aspectos distintos mas que se complementam: por um lado a mostra de ofícios que será apresentada em pontos específicos da vila que o visitante percorrerá; por outro lado, um debate sobre a importância dos ofícios enquanto manifestações da identidade e autenticidade de Castelo de Vide, bem como promotores de desenvolvimento local.


Ofício

Com efeito, podem existir várias interpretações para artesanato, dado o seu carácter abrangente… No entanto, segundo a legislação portuguesa, Portaria nº 1099/80 de 29 de Dezembro, “ considera-se artesão o trabalhador que, isoladamente, em unidade de tipo familiar ou associado, transforma matérias-primas e produz ou repara objectos, ao qual se exige um certo sentido estético e habilidade ou perícia manual, podendo, no entanto, usar máquinas como auxiliares de trabalho, e cuja intervenção pessoal, dominando todas as fases do processo produtivo, constitui factor predominante no mesmo, ao contrário do que se passa na actividade industrial ou de produção em série” (VIDEIRA, Henrique, 1997, pp.34,35).
Deste modo, o artesão, ou mestre, é aquele que, em sua própria casa ou oficina, produz objectos de uso doméstico, de forma manual ou mecânica, e lhes incute um carácter pessoal, no que se diferencia do operário industrial.


Os ofícios e o artesanato constituem, sem dúvida, a forma mais antiga da actividade profissional. Durante a época da Antiguidade Clássica a actividade artesanal encontrava-se circunscrita aos escravos. Foi na Idade Média que os ofícios alcançaram todo o seu esplendor. Durante esse período criaram-se obras de arte excepcionais (catedrais, palácios, trabalhos em ferro forjado, vidraria, etc.) e os mestres artesãos transformaram-se na força mais importante da economia urbana.
De facto, até meados de 1834, com o banimento da Monarquia, as Corporações sempre procuraram dignificar o trabalho mecânico, através da promoção social dos mestres.
Desta forma, e perante uma crescente prosperidade económica, em muito impulsionada pelo próprio desenvolvimento das artes e dos ofícios, encontramos a burguesia dos artesãos e artífices em profunda ascensão social. Assim, estes juntam bens, exercem funções político - administrativas e criam uma “nobreza própria” que acaba por facilitar a mobilidade entre as três classes que estruturam o reino.
Neste contexto, destacavam-se as Corporações dos Ofícios bastante convictas no poder do associativismo. Adquiriram, portanto, mais poder e, consequentemente, mais prestígio (PINTO, 1974).



Porém, com o aparecimento das empresas fabris, durante a segunda metade do séc. XVII parecia que os ofícios estavam condenados a desaparecer. Produziu-se realmente uma alteração de estruturas: todos os produtos que podiam fabricar-se em série foram sendo fornecidos pela indústria, enquanto aqueles que permaneciam exigindo uma manufactura individual, pessoal e de grande qualidade ou técnica artística eram produzidos pelos artesãos.
A massificação da produção veio trazer alterações significativas no modo de vida das populações, as comunidades sempre adaptaram os seus recursos às suas necessidades, traduzindo-se assim na produção de bens específicos para responder às necessidades dessa mesma sociedade.
Em Castelo de Vide os ofícios são indissociáveis da sua história.
Quando os judeus vieram para cá no século XIV uma das importantes formas das pessoas ganharem o seu sustento era fazendo fardas para os exércitos. Assim, se criou toda uma dinâmica na judiaria que até ao inicio do século se a fechassem conseguia ser auto-suficiente, tal como tem vindo a estudar o Sr. carolino que se dedica a estas questões á mais de 30 anos.
Inicialmente faziam-se fardas, que deu origem a que se instalassem também as tinturarias, gerando um verdadeiro motor de desenvolvimento assim, vieram os sapateiros, as pessoas que faziam botões, os alfinetes ferreiro. Fazendo desta notável vila uma “vilazinha medieval, uma cidadezinha moderna” é a frase que para Carolino Tapadejo mais descreve a vila esta dualidade entre a história do burgo e o forte traço da serra.
Assim, o projecto Arte Nossa pretende explorar esta temática, debruçando-se sobre os seguintes ofícios:
  • Arte Boleira;
  • Arte de trabalhar o ferro;
  • Arte Pastoril;
  • Arte do Barbeiro;
  • Arte da Trapologia;
  • Arte do Tipógrafo;

A escolha destes ofícios prende-se com questões meramente metodológicas, no sentido em que, os mestres possuiam ainda as ferramentes nessecárias à sua profissão, bem como continuam a trabalhar, nem que seja esporadicamente, contudo temos a certeza de que existem muitos outros ofícios de igual importância em Castelo de vide.

1 comentário:

Unknown disse...

É muito simpático ver a referência bibliográfica a um trabalho do meu Avô, Alexandre Alberto Nogueira Pinto.